“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

JAIME CAETANO BRAUN... GAÚCHO QUE NASCEU ARTISTA... e... O ARTISTA QUE VIROU LENDA...





      UM PROJETO DE LEI DO ENTÃO DEPUTADO ESTADUAL JOÃO LUIZ VARGAS, APROVADO E SANCIONADO NO GOVERNO DE OLÍVIO DUTRA INSTITUIU O DIA 30 DE JANEIRO, COMO O DIA DO PAJADOR GAÚCHO, ESTA DATA FOI ESCOLHIDA PORQUE É A DATA DE NASCIMENTO DO GRANDE PAJADOR JAYME CAETANO BRAUN. 

O TEXTO DA LEI É O SEGUINTE:

LEI Nº 11.676, DE 16 DE OUTUBRO DE 2001.

Dispõe sobre a instituição do "Dia do Pajador Gaúcho".

O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
Faço saber, em cumprimento ao disposto no artigo 82, inciso IV, da Constituição do Estado, que a Assembléia Legislativa aprovou e eu sanciono e promulgo a Lei seguinte:

Art. 1º - Fica instituído o "Dia do Pajador Gaúcho", que será comemorado no Estado do Rio Grande do Sul no dia 30 de janeiro, data de nascimento do poeta e pajador gaúcho Jaime Caetano Braun.
Art. 2º - O "Dia do Pajador Gaúcho" deverá fazer parte do calendário de eventos culturais do Estado.
Art. 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.

PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 16 de outubro de 2001.

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Conforme texto escrito por VINÍCIUS RIBEIRO, Jayme Caetano Braun, foi poeta, tradicionalista, declamador e payador, fazia de improviso com temática muito próxima a milonga, opinando sobre algo.
Símbolo maior da poesia gauchesca; especializou-se em décimas (poemas com estrofes de 10 versos).
Em seus versos retratou, com conhecimento de causa, os hábitos costumes e vicissitudes do homem campeiro do sul do Brasil.
O peão de estância, o gaúcho andarilho, o índio missioneiro e muitas outras figuras regionais ganharam vida em seus poemas.
A formação dos Sete Povos das Missões, a epopeia farroupilha, foram alguns dos seus muitos temas.
Eterno filósofo galponeiro, em suas reflexões, buscou as respostas da existência na visão do homem simples.
Sua temática ia da raiz às estrelas, sendo ao mesmo tempo regional e universal; seus versos mescla de história, costumes e atualidades, exaltaram a vida do homem excluído, pobre e oprimido.
Deixou sua obra imortalizada em vários livros e discos. Sendo considerado pelo meto tradicionalista, como referência gauchesca da essência rio-grandense.
Jayme Braun, Nasceu em 30 de Janeiro de 1924 às 8:30 na fazenda Santa Catarina de seu avô materno (Aníbal Caetano) na localidade da Timbaúva (Na época 3° Distrito de São Luiz Gonzaga) hoje município de Bossoroca.

Desde cedo conviveu com a vida rural nas fazendas e esse convívio, foi armazenando na alma do payador, o riquíssimo conteúdo emotivo que serviu de espinha dorsal para suas poesias.
Jayme cresce com a realidade do campo e da cidade, numa região em que a mística das Reduções Jesuíticas move o imaginário popular, forjando assim o seu discurso poético.
Jayme cantou, principalmente no início de sua carreira, a indumentária e a cozinha tradicionais do gaúcho (o mate, o arroz de carreteiro, o lenço, a faca). Mas sempre denunciou o uso indevido destes símbolos pelos opressores para confundir o povo: “Eu pergunto: de que adianta plantar um pé de erva-mate, como sinal de combate em defesa de uma planta se a mesma mão que levanta nessas considerações é a que assina concessões num inconsciente floreio aos assassinos do meio que fazem devastações?” Questiona em Payada das Primaveras.
A militância cultural e política de Jayme não se limitaram às fronteiras do Rio Grande do Sul ou do Brasil. A partir dos anos 60, começa a estudar a cultura gaúcha da Argentina e do Uruguai e estreita contatos com artistas daqueles países. Foi a partir daí que encontrou a forma de expressão em que melhor se saía: a Payada.
Em sua luta em defesa da identidade cultural latino-americana, Jayme homenageou em versos comoventes o argentino Atahualpa Yupanqui (que, por sinal, estaria fazendo 103 anos no dia 29 de janeiro), a quem tinha como ídolo, e chegou a escrever poemas em espanhol. Para ele, não havia incoerência entre esta aproximação e sua postura de ferrenho defensor da cultura riograndense e brasileira. Afinal, argentinos e uruguaios eram povos irmãos, oprimidos pela mesma potência. Defendia a unidade entre os povos da América do Sul, especialmente as “três pátrias gaúchas” (Brasil, Argentina e Uruguai). No poema Los Tres Gauchos, sintetizou este ideal: “hermanos de sembra y paz,/ América és tu bandera!/ ayer - hicimos frontera,/ hoy- no la queremos más.”

Jayme é o cerne dos quatro troncos missioneiros (Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá, Noel Guarany e Pedro Ortaça) e um gaudério que não podemos deixar cair no esquecimento. Com a Lei de 2001 para o Dia do Pajador Gaúcho, temos ao menos o dever de relembrá-lo...
Após a morte de seu Pai, a família muda-se para Porto Alegre, mas Jayme resolve retornar ao seu berço de nascimento, passando a residir na fazenda Santa Terezinha, de propriedade de seu tio Danton Vitório Ramos, também na Timbaúva. Casa-se com Nilda Aquino Jardim, com quem tem dois filhos. Mora por um ano na Estância Piraju, de propriedade de seu sogro. Depois se muda para Serrinha, distrito de São Luiz Gonzaga, onde administra um bolicho de campanha por cerca de dois anos, em seguida retorna a São Luiz Gonzaga e de lá, definitivamente para Porto Alegre, onde vive maior parte de sua vida, divorcia-se e tem outro filho, num segundo casamento, com Aurora Ramos Braun.



Na capital gaúcha conquista o reconhecimento como homem da palavra, torna-se diretor da Biblioteca Pública (1959-1963), sócio-fundador da Estância da Poesia Crioula, presidente do Conselho Coordenador, que futuramente vem a ser o MTG e Conselheiro de Cultura do Estado. Como locutor de rádio sua atuação provém desde São Luiz Gonzaga, mas em Porto Alegre ganha notoriedade estadual, mantendo por 15 anos o programa Brasil Grande do Sul, na Rádio Guaíba AM.


Na Estância da Poesia Crioula realiza diversos estudos sobre a poesia, convive com a elite de poetas crioulos da época e conhece ao poeta uruguaio Sandálio Santos (Nicásio Garcia Beriso), quem lhe ensina a estrutura da Décima Espinela, a qual sustenta a maior parte de sua produção poética escrita e improvisada através da pajada, e é Sandálio Santos que Jayme Braun considera como seu professor. Em uma entrevista, Jayme Braun disse que aceitava o rótulo de pajador, mas não se considerava o maior dos pagadores, para o grande mestre, não existia poeta menor ou maior, apenas a diferenciação dependia do gosto, por um ou por outro. Citou como grandes pagadores além de seu Professor Sandálio Santos, o argentino Don Arabi Rodrigues, e o Argentino Luna. Quanto aos brasileiros citou Paulo de Freitas Mendonça como grande poeta mas não ainda como grande pajador e o Itaquiense João Augusto Sampaio da Silva.
LUNA
Para Jaime o maior trovador do Rio Grande do Sul foi Gildo de Freitas, também conviveu muitos anos com o trovador Garoto de Ouro.
Entre os poetas o que Jayme mais gostava era Juca Ruivo, também admiravo o trabalho de Balvino Marques da Rocha, Aureliano de figueredo Pinto, Vargas Neto e Glauco Saraiva.
Participou do Grupo Os Teatinos, juntamente com Glênio Fagundes, Paulo Fagundes e Marco Aurélio Campos.
Jayme braun citava Glauco Saraiva, como o verdadeiro fundador do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e não aceitava que dissessem que era fruto do (MTG), Pois cronologicamente era anterior ao movimento, mas reconhecia e respeitava a importância do MTG. 
Dom Arabi Rodrigues
O movimento que participava era o criolismo, o nativismo, não o tradicionalismo.
A formação do poeta Jayme Braun era muito mais Argentina do que Brasileira, ajudou a difundir no Brasil ritmos como o chamamé e a milonga na qual o poeta e pajador afirmava com convicção que era gáucha.
RUY RAMOS ( O MOURO DO ALEGRETE)
Sobrinho do poeta e político Ruy Ramos, também herda deste, além da poesia, o gosto pelas questões sócio-políticas, apesar do seu insucesso nas urnas numa única vez que se candidata a deputado estadual. Por influência deste, participa como pajador de campanhas importantes como as de Getúlio Vargas, Leonel Brizola, Jânio Quadros e outros.
Segundo Paul de Freitas Mendonça, estas vivências do campo, da cidade, das missões, da política, da região de fronteira e dos meios culturais são formadoras da sua produção artística em seus diversos livros e discos de sucesso. A parceria com seu conterrâneo Noel Guarany lhe dá visibilidade de um resgate extremamente importante que é a valorização da cultura missioneira, na qual se agregam num futuro breve, Cenair Maicá e Pedro Ortaça, entre outros. O canto de rebeldia, sendo a voz calada do índio, o alerta para um patrimônio cultural abandonado e a defesa dos usos e costumes do campo e do bem maior do povo, a liberdade, são seus discursos poéticos preferidos que encontram eco nos anseios de grande parte da população rio-grandense. Estes e outros fatores, associados a sua qualidade poética e inspiração incomparável, lhe outorgam a respeitabilidade como um dos mais importantes poetas do Estado e o patrono do movimento pajadoril brasileiro.
O Professor Mosart Pereira Soares ao referir-se ao poeta pajador afirma: “Eu diria que a desenvoltura de Jayme Caetano Braun improvisando participa da natureza do milagre.” E, continua: “O Jayme Caetano Braun foi, até aqui, a maior expressão do improvisador, do pajador, que tivemos. Diante dele não há o que resista. O Jayme Caetano Braun tem uma cultura respeitável e sobretudo um imenso talento.” O poeta Balbino Marques da Rocha é profético: “Jayme nasceu em São Luiz Gonzaga, mas naquele momento tremeram os alicerces dos quatro pontos cardeais do Rio Grande, porque nascia o grande inimitável payador desta terra, que terá o calendário mudado para antes e depois de Braun.”
Ambos tem razão, Jayme Caetano Braun é reconhecido como um cultor da poesia que transcende o gauchismo e o seu tempo. É nome de CTG na capital federal, de viaduto em Porto Alegre, está imortalizado em estátuas em São Luiz Gonzaga e na capital gaúcha e em praça, em Passo Fundo. É considerado por artistas e públicos de diversas gerações como um prócer da cultura rio-grandense, que deixa discípulos e influencia até hoje a produção artística do Estado. É consagrado nos galpões dos rincões mais ermos do sul do Brasil e nos salões mais nobres da capital, prova disso é que, quando da sua morte, em 08 de julho de 1999, o Salão Negrinho do Pastoreio, do Palácio Piratini, sede do governo estadual, vela respeitosamente seu corpo, na despedida derradeira.
Seus poemas e letras de música permanecem atuais, recitados, lidos e ouvidos nos mais diversos ambientes, inclusive além fronteiras, respaldando seu sonho de pátria grande através do modus vivendi dos habitantes do sul da América. Suas pajadas continuam inspirando novos pajadores e encantando os admiradores da poesia oral improvisada.



Livros: - Galpão de Estância (1954)

- De Fogão em Fogão (1958)
- Potreiro de Guaxos (1965)
- Bota De Garrão (1966)
- Brasil Grande do Sul (1966)
- Paisagens Perdidas (1966)
- Vocabulário Pampeano – Pátria, Fogões e Legendas (1987)
- Payador e Troveiro (1990)
- Antologia Poética: 50 anos de poesia (1996)
- Payada Cantares(2003)(obs:Resgate do acervo de Jayme)


Discos

- Payador – pampa e guitarra de Noel Guarany (convidado especial) (1974)
- Payadas (1984)
- A volta do payador (1984)
- Troncos Missioneiros (juntamente com Noel Guarany, Cenair Maicá e Pedro Ortaça) (1987)
- Poemas Gaúchos (1993)
- Payadas (1993)
- Paisagens Perdidas (1994)
- Jayme Caetano Braun (1996)
- Acervo Gaúcho (1998)
- Êxitos 1 (1999)
- Payada, Memória & Tempo (2006)(obs:Resgate do acervo de Jayme)
- Payada, Memória & Tempo Vol. 2 (2008)(obs:Resgate do acervo de Jayme)
- A Volta do Farrapo (2008) (obs. Resgate do acervo de Jayme)




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