“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

domingo, 27 de dezembro de 2015

RODRIGO BAUER

Rodrigo Bauer é um dos maiores poetas do Rio Grande do Sul, nasceu em São Borja-RS na divisa com a Argentina no dia 03 de maio de 1974.
Já publicou vários livros de poesia e já venceu como letrista os maiores e mais tradicionais festivais nativistas do Brasil. É um talento indiscutível que possui o respeito e a admiração de todos os que apreciam a boa musica nativista e missioneira.
Bauer pertence à nova geração de letristas e poetas do movimento nativista. Nasceu num berço de influencia poética, e através de seu avô materno, que sempre foi um leitor da literatura regionalista, conheceu e apreciou trabalhos de escritores como: Aurelino de Figueiredo Pinto, Vargas Neto, Jose Hilário Retamozo, Zeca Blau, Aparício Silva Rillo, Jaime Caetano Braun, Lauro Rodrigues, entre outros.
Na terceira série do primário, aos nove anos, sua professora em sala de aula apresentou uma proposta, onde, era preciso criar quadrinhas, de maneira que a segunda linha rimasse com a quarta linha. “verso de quatro linhas”, e a partir de então nunca mais deixou de exercitar esse oficio.
Já pelos quatorze anos teve a coragem de enviar o primeiro trabalho para o Jornal A FOLHA DE SÃO BORJA, da cidade de São Borja-RS, onde o redator era nada mais e nada menos que Aparício Silva Rillo, que o ligou para que conversassem, trocasse idéias e algumas orientações sobre o que ler como escrever, tudo para que o trabalho desse novo letrista nativista engrandecesse.
A partir de então se iniciou uma grande amizade, pauta em respeito e admiração mutua. Aparício é para Rodrigo Bauer a sua referência, a sua escola, seu conselheiro, fonte de inspiração, incentivador, o segundo pai, o “pai da sua poesia”, um amigo para todas as horas.
No primeiro festival importante que Bauer foi premiado, recorda do abraço que ganhou de Aparício Silva Rillo e da frase que nunca vai esquecer: “Eu não aposto em cavalo manco”. Ele nunca mudou um verso meu, sempre me orientou, mostrou-me o caminho, sempre procurou demonstrar como deveria ser feito, mas, nunca fez, em outras palavras, “ele nunca me deu o peixe, mas, me ensinava a pescar”, afirma Bauer.
Rodrigo Bauer traz consigo toda a sanha inspiradora da campanha gaúcha e o telúrico musical que sempre vingou das canções fronteiriças, essa mescla de milonga e chamamé.
Rodrigo Bauer escuta muito a musica popular brasileira, obviamente seguindo a linha dos melhores artistas gaúchos, ele gosta da boa musica independente de onde ela venha. E segundo ele o musico gaucho é uma referência na musicalidade brasileira, pois, todo o Brasil vem ate aqui buscar músicos.
Aprecia também a música Argentina e Uruguaia, reconhece a influencia que essa cultura castelhana tem para com o povo gaúcho. Eles são um pólo formador da nossa música, destaca Rodrigo.
A primeira composição premiada apareceu no festival de São Luiz Gonzaga, “O canto dos Sete Povos” e a composição intitulada “lembranças” em parceria com o Grupo “Santa Fé”, que o acompanhou em diversos festivais na seqüência.
A composição “O nada”, foi o destaque de sua carreira por ter conquistado com ela a “Calhandra de Ouro” do festival “Califórnia da Canção Nativa” de Uruguaiana. Em parceria com Chico Saratt.
Após a parceria com o Grupo “Santa Fé” (descendente do Grupo Os Angueras), iniciou então trabalhos em conjunto com o Grupo “Os Angueras”.
Atualmente as parcerias de Bauer têm sido com, Joca Martins, Jorge Guedes e família, Mário Barbará Dorneles e Edson Vargas (Cd Cavalo Crioulo), entre outros.
Segundo Rodrigo Bauer, vivemos hoje um período crítico sobre nossos festivais, há muita dificuldade para a realização destes, inclusive com falta de recursos, inviabilizando a logística e infra-estrutura. Impossibilitando a ajuda de custo dos Artistas, e premiações. Assim retirando muitos Artistas dos palcos dos festivais.
Rodrigo conta que os festivais já viveram dois períodos áureos, sendo o primeiro deles nos anos 70, com o advento da “Califórnia da Canção Nativa” de Uruguaiana-RS, explodindo a musica Nativista e Galponeira, despertando muitos artistas e letristas, e inclusive despertando ainda mais o amor pelas coisas do pago, dos costumes gaudérios, das lides, do cavalo e da valorização e dignificação do próprio gaúcho.
O segundo período de ouro foi na década de 90 com o Troféu Vitória, alavancou ainda mais os festivais fazendo com que num mesmo final de semana tivesse apresentação em até quatro festivais, tendo que dividir em equipes para ter a representação de suas letras em todos os eventos. Nessa época em parceria com Chico Saratt, Flávio Hansen, e Vinícius Brum, para conseguir atender a todos os compromissos.
Sobre julgar ou ser julgado em um festival, por ser letrista, e acostumado com os palcos, sente-se muito mais a vontade sendo julgado, pois, “é aqui que estou exercendo meu oficio, sendo julgado eu estou apresentando o meu trabalho, aquilo que sei fazer”. Afirma Rodrigo Bauer. Sem contar que a adrenalina de um festival é algo excepcional.
Os festivais contribuem muito para que tenhamos uma disputa leal, uma “briga” de profissionais pela excelência, comprovando o que vimos hoje no Brasil, onde quase todas as bandas possuem músicos gaúchos.
Ser jurado é muito mais difícil, pois, não é sua profissão. No entanto não pode se furtar de exercer esse ofício, pois deve dar sua parcela de contribuição para a qualidade da crítica também não seja só de pessoas que não entendam da composição de musicas.

Rodrigo Bauer é vencedor de mais de 40 festivais, entre eles a “Califórnia da Canção Nativa” de Uruguaiana, a “Sapecada da Canção” de Lages-SC, a “Moenda da Canção”, “O Rio Grande Canta o Cooperativismo”, “Um Canto para Martin Fierro”, a “Tafona da Canção”, “o Grito do Nativismo”, a “Ronda de São Pedro”, “o Bivaque” e “a Sesmaria da Poesia Gaúcha”, entre vários outros.
Recebeu, em 1998, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, o Troféu “Vitória” nas categorias: melhor compositor do ano, melhor letrista do ano e melhor canção do ano. Tem mais de quatrocentas músicas gravadas pelos maiores intérpretes e grupos musicais gaúchos.
Sobre seus livros Rodrigo descreve que já são cinco livros. O sexto livro, que já está em construção, tem por título “A Voz dos Lenços”. Rodrigo descreve com exclusividade ao Galpão, Pátria e Poesia, que a história desse livro conta sobre nossos avôs que politizaram o Rio Grande do Sul através de dois matizes, dois lenços o Branco “Chimango” e o Vermelho “Maragato”. Pois esses lenços tinham voz porque se apropriaram da voz das gargantas que eles próprios cingiram na época, apesar de serem inanimados. São poemas relacionados à politização do nosso Rio Grande do Sul.
Bauer aprecia muito o esporte, inclusive foi nomeado pelo Sport Clube Internacional Cônsul Cultural Colorado, onde recebeu a certificação pelas mãos do eterno ídolo colorado Fernandão.
Mas como surgiu a Letra “Sem Tinta”? Nessa ocasião Rodrigo Bauer estava na maior feira do livro do interior do estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Bento Gonçalves-RS, dirigida por Pedro Junior da Fontoura, junto com Mário Barbará, e tendo a feira como seu patrono Colmar Pereira Duarte. Nessa oportunidade em um entrevista para uma rádio local foi perguntado por jornalistas: como é viver na campanha? Olhando para nós (Mário Barbará e Rodrigo Bauer) jamais tu vais encontrar aquele gauchinho do topete de mate de rodoviária, aquele gauchinho de cartão postal, nós somos o gaúcho de verdade, não somos aquele gaúcho que só desfila nem aquele que vende uma imagem estereotipada, nós somos aquele que não sai em fotografia. Responde Mário Barbará.
A Letra:
SEM TINTA
(JORGE GUEDES E FAMÍLIA)

Eu sou o próprio gaúcho sem tinta e sem fantasia
Venho do ermo do pampa, com sestro e com rebeldia!
Não trago nenhum discurso dobrado embaixo do braço
o que é preciso ser feito, eu não enfeito, mas faço!

Meu laço não é bonito, mas me garante o sustento
E quando cerra, estou certo que não “remalha” um só tento!
O meu apero não brilha, porque já é veterano
Não é dos que vêem cavalo somente uma vez por ano!

Sou o gaúcho dos campos, não o das fotografias
Pra quem a lida de campo jamais foi uma utopia
Eu não desfilo nem danço, nunca fui numa mateada
Mateio à beira do fogo nos braços da madrugada!

Eu sou o próprio gaúcho não sou um tipo oficial
Marcado e assinalado por um galpão regional
Me gusta ser orelhano, sem fronteira ou documento
Meu ancestral, o gaudério, não tinha regulamento!

Quando as bandeiras desfilam no colorido da praça
Estou no fundo do campo como um guardião desta raça
Eu evito os refletores, no meu exílio campeiro
Eles agridem meus olhos que são irmãos do candeeiro!

Ataliba de Lima Lopes, (Poeta Nativista), destaca o sucesso que a letra faz por tratar a realidade de um gaúcho que foge de toda a mídia, demonstrando o que realmente significa ser gaúcho na campanha.
Rodrigo Bauer, um dos maiores poetas do sul do Brasil, talento indiscutível que nasceu no berço da poesia, sendo um discípulo de Aparício de Silva Rillo, relata que está por volta de quatrocentas e poucas composições escritas. E com 78 parceiros diferentes na musica.
Segundo Bauer a Rádio Verdes Pampas foi à emissora que fez nascer nele o gosto pela musica nativista e também foi à primeira emissora que divulgou e catalisou o seu trabalho através de Valtenor de Almeida.
Bauer relata ao Galpão, Pátria e Poesia, seu novo projeto, “Leiloeiro Rural”, ele revela que nasceu em função das parcerias musicais. O primeiro leilão foi iniciação do cantor Edson Vargas, através da empresa “Boqueirão Remates”, sendo que a ideia de tirar a licença de leiloeiro foi de joca Martins.
Rodrigo Bauer falou também sobre a diferença entre a composição de uma Poesia e de uma Letra a ser musicada. Relata que a diferencia crucial entre elas está basicamente no tamanho (estética). Em poemas a ser declamado procura-se ser um pouco mais extenso e em uma letra a ser musicada ela precisa ser sucinta, precisa ter síntese, passando sempre uma mensagem para quem aprecia. Bauer confessa que prefere sempre escrever uma poesia.

O Programa e Blog GALPÃO, PÁTRIA E POESIA, através de seu Poeta Nativista, Ataliba de Lima Lopes, agradece imensamente ao grande compositor Rodrigo Bauer a disponibilidade de estar em nosso galpão. Rodrigo, uma pessoa agradabilíssima, de rara simplicidade e sabedoria, têm em seu trabalho uma referencia de qualidade, em suas composições trazem mensagens, não só refrões, e não à toa, Rodrigo Bauer é considerado o mais fiel discípulo do Grande Poeta Aparício Silva Rillo, e com certeza Rodrigo Bauer sabe da importância que essa comparação trás para sua carreira.

sábado, 26 de dezembro de 2015

VALTENOR DE ALMEIDA

VALTENOR PEREIRA DE ALMEIDA, Intérprete, Compositor, Músico, Poeta e Radialista, nasceu em Ernesto Alves, distrito de SANTIAGO-RS, mas, como seu pai era funcionário do DAER, e na época trabalhava em Jaguari, foi registrado lá. Sobre Jaguari Valtenor disse em uma entrevista para o Jornal Expresso Ilustrado, que era a terra do coração.
Filho de Delfino Lanes de Almeida e de Olga Pereira de Almeida. Casou-se em 05 de outubro de 1974 com dona Elvira Lopes Casanova.
Começou a carreira artística tocando gaita, nas tertúlias livres, mas, em 1984 quando começava a consagrar-se como gaiteiro, sofreu um acidente, ficando impossibilitado de tocar. Após este episódio, influenciado por Eurides Nunes, começa a tocar violão e interpretar, surgindo desta forma uma verdadeira vocação, que é tocar violão e cantar as coisas do pago.
Apresentou-se pela primeira vez no 6º Festival da música Crioula de Santiago, mas, a composição defendida por ele não foi classificada para o disco, mas, já na edição seguinte deste mesmo festival, defendendo uma letra do saudoso Nilton Mesquita, intitulada “Lobisome” que foi premiado com a música mais popular.
Valtenor nasceu nos palcos dos festivais que segundo ele foram sem dúvida a mola propulsora dos grandes nomes da nossa música gaúcha.
Sobre o surgimento de novos artistas, Valtenor disse que a quantidade é muito grande, mas a qualidade nem tanto.
Valtenor de Almeida lutava pela valorização dos artistas gaúchos, já que creditava que os artistas do nativismo gaúcho, nunca foram valorizados como deveriam. A música nativa do sul traz uma mensagem cultural muito forte. Tem raízes profundas da nossa história.
Valtenor sempre fomentou a cultura sulina e uma de suas realizações foi a Noite Missioneira de Santiago, que sempre teve grandes nomes do nativismo no palco. Teve três edições realizadas.
Valtenor foi o principal comunicador nativista da rádio Verdes Pampas na sua época, Apresentou vários programas gauchescos, destacando os programas, Ronda Nativa e Versos, Pampa e Guitarra e inclusive foi o primeiro a usar o famoso bordão, “Verdes Pampas, marca e sinal de Rio Grande”
Em parceria com Ataliba de Lima Lopes, participou como musico nas composições: “Sonho povoeiro” do 7º Festival da musica crioula de Santiago-RS; “Namoro com bolo frito” musica mais popular do 8º Festival da musica crioula de Santiago-RS; “Meleiro” do 11º Festival da musica crioula de Santiago-RS, e também na composição “Dor de dente” musica mais popular da 5ª semeadura de Tupânciretã.
Aliás, é bom salientar que Valtenor de Almeida, Ataliba de Lima Lopes e Eurides Nunes, foram grandes amigos e parceiros. Nessa época não era difícil encontrar esse trio se apresentando entre amigos e em festivais.
Destacamos sua apresentação nos principais festivais nativistas da musica Gaúcha como: 4º Festival de Mata com a composição “Desenho da miséria” defendida também por Antonio de Oliveira e Grupo, a letra é uma parceria com Roberto Ornes. Lobisome e Desenho da Miséria receberam troféus como música mais popular. 9º 10º 11º Grito do Nativismo de Jaguari; 1º Gruta em canto de Nova Esperança de Sul em 1996; 4º Manancial Missioneiro da Canção de Bossoroca; Festival Tradicionalista de Mata; 1º, 4º, 5º Aparte da Querência do Bugio de São Francisco de Assis; 7º, 8º, 12º 13º Festival da Música Crioula de Santiago; 15ª Gauderiada da Canção Gaúcha; 1º Festival Gaúcho da Arte e Tradição; 4ª Tropeada da Cultura Rio-Grandense; 3ª Semeadura da Canção Nativa de Tupanciretã; 1º Clarim; 3º Canto dos Sete Povos; 10ª e 11ª Muestra de Arte Missionero, entre tantas outras.
Foi jurado em vários festivais, como: 3° Canto dos Sete Povos, 1° Cambona da Canção Nativa de São Nicolau, 1° encontro Eurides Nunes, 4º Aparte da Querência do Bugio de São Francisco de Assis, Festival Tradicionalista de Mata, entre outros. Possui composições gravadas por diversos grupos e cantores do Rio Grande do Sul, entre eles Os Monarcas, Os Mateadores, Os Legendários, Antônio de Oliveira e Som Campeiro.
Realizou shows com sucesso em Santa Catarina, Paraná, em Possadas na Argentina e por duas oportunidades em Buenos Aires também na Argentina, levando sempre a Cultura Missioneira através do verso.
Fez parte do conjunto “Os Bunitão” e do “Grupo Caminhos” como cantor solo.
Valtenor faleceu aos 44 anos em 21 de junho de 1997, vitima de isquemia cerebral e de parada cardíaca fatal.
Mário Meira escreveu o seguinte sobre a morte de seu amigo Valtenor de Almeida: Permitam usar este espaço para registrar aqui minha saudade desse eterno amigo, Acompanhei sua carreira artística, Eu morava a uma quadra da casa dele, e nós sempre escutávamos juntos chamamés da Argentina. Apoiei sua parceria com Eurides Nunes, e aproximei-o de outro amigo meu, do João Máximo aqui de São Luiz, que teve uma parceria musical juntos. Por derradeiro envio a sua família todo meu abraço fraterno.
Valtenor de Almeida, foi um artista autêntico, não tentou imitar ninguém, criou seu próprio estilo de compor e interpretar. Como locutor dominava audiência de quem gostava de música gaúcha. Era referencia como defensor da nossa cultura.
Amigo para todas as horas amava a família, cultivava amizades verdadeiras e tinha sempre o olhar em vôos mais altos. Sempre pensava em crescer, como homem e como artista, trabalhava incansavelmente aprendendo e também ensinando.

Seu amigo mais chegado era o violão, que ficou mudo com sua partida. Nunca saberemos quão longe na arte Valtenor de Almeida chegaria, mas sabemos que enquanto esteve entre nós mostrou a coragem, a raça e o talento de um grande artista Missioneiro.

NATAL GALPONEIRO

 A cuia do chimarrão,
É o cálice do ritual,
E o galpão é a Catedral
Maior da terra pampeana,
Que de luzes se engalana,
Para esperar o NATAL.

A cuia aquece na palma
Da mão da indiada campeira,
Dentro da sua maneira,
Rezando e chairando a alma,
Para recuperar a calma,
Que fugiu do mundo inteiro.
Enquanto o estrelão viajeiro,
Já vem rasgando caminho,
para anunciar o "Piazinho",
A Virgem e o Carpinteiro.

Em nome do Pai,
- Do Filho e do Espírito Santo,
É o chimarrão que levanto,
E o vento faz estribilho,
A prece do andarilho,
Ao Piazito Salvador,
Filho de Nosso Senhor,
Do Espírito e do Pai,
De volta a terra aonde vai,
Falar de novo em amor!

Tem sido assim - dois mil anos,
Ninguém sabe - mais ou menos,
Vem conviver com os pequenos,
De todos os meridianos,
E repetir aos humanos,
As preces de bem querer.
Quem sabe até - pode ser,
Que um dia seja atendido,
E o mundo velho perdido,
Encontre paz para viver.

Ele sabe da apertura,
Em que vive o pobrerio,
A fome - a miséria - o frio,
Porque passa a criatura,
Mas que - inda restam - ternura,
Amizade e esperança,
É que pode, a cada andança,
Mesmo nos ranchos sem pão,
Aliviar o coração,
Num sorriso de criança!

Pra mim - que ouvi na missões,
Causos de campo e rodeio,
Do "Negro do Pastoreio",
Cruzando pelos rincões,
Das lendas de assombrações,
E cobras queimando luz.
Foste - Menino Jesus,
O meu sinuelo de fé,
Juntando ao índio Sepé,
O Nazareno da Cruz!

E a Santa Virgem Maria,
Madrinha dos que não tem,
Fez parte - sempre - também,
Da minha filosofia,
Eu que fiz de Sacristia,
Os ranchos de chão batido,
E que hoje - encanecido,
Sou sempre o mesmo guri,
A bendizer por aí,
O pago que fui parido!

E o Nazareno que vem,
Das bandas de Nazaré,
Chasque divino da fé,
Rastreando a luz de Belém,
Ele que vai morrer também,
Pra cumprir as profecias.
É Natal - nasce o MESSIAS,
Salve o Menino Jesus!
Mas o que fogem da luz,
O matam todos os dias.

Presentes - "Papais Noéis",
Um ano esperando um dia,
Quando a grande maioria,
Sofre destinos cruéis.
O amor pesado a "mil-réis",
E mortos vivos que andam,
Instituições que desandam,
Porque esqueceram JESUS,
O que precisa, é mais luz,
No coração dos que mandam!

Que os anjos digam amém,
Para completar a prece,
Do gaúcho que conhece,
As manhas que o tigre tem.
Não jogo nenhum vintém,
Mesmo sendo carpeteiro,
Mas rezo um Te-Déum campeiro,
Nessa Catedral selvagem,
Pra que faça Boa Viagem,
O enteado do Carpinteiro!

(JAIME CAETANO BRAUN)

FELIZ NATAL
Votos equipe: GALPÃO, PÁTRIA E POESIA

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

JOCA MARTINS

João Luiz Nolte Martins ou simplesmente JOCA MARTINS, é considerado um dos maiores nomes da música gaúcha. Intérprete reconhecido, músico, letrista e compositor.
Nativista de presença marcante é considerado pela imprensa especializada um dos intérpretes mais "campeiros" do nativismo. Citado pela mídia como quem possui "Todo o Lirismo da Pampa" (Jornal do Povo 1999).
Nasceu na cidade de Pelotas, no dia 2 de fevereiro de 1963 é um cantor e compositor de Música Nativista Gaúcha.
Filho de Luiz Carlos e Lilia Martins, o mais velho de três irmãos, todos ligados a música, João Marcos "Negrinho" Martins (baixista e violonista) e o Rodrigo dMart (bateria).
Despertou para a música através do convívio familiar. O avô, João Corrêa Martins, tocava acordeom, violão e bandolim e isso estimulou o gosto pela música.
Pelos idos de 1983, na Estância Santa Diva, de propriedade do amigo Aluisio Dias Costa, e na descrição deste "o convívio diário com a lida campeira e suas peculiaridades, o mate com sabor de aurora e aroma de braseiro de corunilha, a música nativa que embalava os anseios e inquietudes de guri, despertaram serenamente o interesse do Joca pela cultura gaúcha, e foi através da música que identificou a forma mais autêntica de transmitir seu sentimento apaixonado pelos costumes de sua terra."
Aos sete anos permitiu que a vocação "cantasse" mais alto, ingressando no conservatório de música onde deu início a sua formação musical.
Aos nove anos surgiu o contato e o gosto pela vida rural. O tempo passado no campo era sempre "pouco" lembra com saudade "Joca" Martins, apelido dado pelo pai de um parceiro de campo e de infância.

Aos treze anos, quando seu irmão ganha o primeiro violão profissional começam as apresentações ao público não tão familiar, acompanhados sempre pelo avô em interpretações de belas canções como a tradicional "Fita Amarela" de Noel Rosa.
Joca, estudou no Colégio Gonzaga entre 1974 e 1981 e no Conjunto Agropecuário Visconde da Graça entre 1982 e 1986, onde reprovou duas vezes, devido a sua vocação e interesse único ao CTG de Pelotas.
Foi cursar Agrotécnica na Universidade Federal de Pelotas, estudando no CAVG (Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça), com o irmão Negrinho Martins, no convívio com colegas de diversas regiões do nosso estado, especialmente da fronteira, Joca Martins passou a fazer "guitarreadas" à beira do fogo, no CTG Rancho Grande.
Em companhia de colegas identificados com a cultura da terra, as guitarreadas tornaram-se mais "profissionais". Ele e o irmão tocavam para a invernada do CTG e, nas apresentações, também mostravam suas músicas.
Conheceu, neste convívio, nomes como o de Luiz Marenco, entre outros, que viria a transformar-se em uma das figuras mais significativas da música campeira.
A Comparsa de Pinheiro Machado - RS, em 1985, foi o primeiro festival que Joca participou e, desde então, conta com inúmeras premiações e com mais de duzentas músicas gravadas, já tendo participado de praticamente todos os festivais como intérprete, compositor, músico ou jurado.
Influenciado pelo surgimento da Califórnia da Canção Nativa e de talentos como: o Missioneiro Cenair Maicá, o payador Jayme Caetano Braun, Renato Borguetti da cabeleira e da bombacha arregaçada e pela então inevitável revolução musical do Rio Grande do Sul, tomou como objetivo levar adiante o gosto de compor e cantar as "coisas" e os "causos" da terra gaúcha.
Em 1985 cria o grupo "Comparsa Cancioneira" e em 1986 o grupo "Ontonte", formados por Negrinho Martins, Fabiano Bachieri e Fernando Saalfeld. Começa neste instante a sua incursão pelos festivais.
Com uma voz privilegiada e admirador de canto lírico, Joca Martins viaja a Curitiba onde aprimora seus conhecimentos com renomados mestres como o barítono italiano, Rio Novello, e uma das maiores cantoras líricas do Brasil Neyde Thomaz, dando seqüência ao seu aprimoramento com o maestro Sérgio Sisto. É quando participa então, com sucesso, da ópera "La Traviata".
Em 1995 lança-se no mercado fonográfico, pela "USA Discos" com o primeiro CD intitulado "XUCRO OFICIO" (com composições de Jayme Caetano Braun, Xiru Antunes, Carlos Madruga, Luiz Marenco, Anomar Danúbio Vieira e Zulmar Benitez) que resulta em mais de três mil exemplares vendidos.
Após 4 anos, com apurado repertório, composto por músicas premiadas e regravações de sucesso surge seu segundo CD pela gravadora "Vozes", produzido pelo multi-instrumentista "João Marcos Negrinho Martins" intitulado "DOS ANCESTRAIS ATÉ AQUI" que leva como carros-chefes a chamarra "Motivos de Campo", a vaneira "Só resta o retrato" e o clássico chamamé correntino "KM 11", de Trancito Cocomarola.
Com ainda mais êxito que o primeiro, foi considerado pela crítica um trabalho de altíssimo nível técnico e artístico, com arranjos bem elaborados e uma sonoridade de fazer inveja mostrando um artista maduro e moderno, chegando a ser o trabalho de música nativista mais vendido da gravadora "Vozes".
Tendo marcado presença nos mais diversos eventos acumula prêmios e êxitos. Arrebatou primeiros lugares em 8 festivais, soma mais de 40 músicas premiadas e 11 prêmios de "Melhor intérprete" por todo o Rio Grande do Sul.
Já defendeu composições de quase todos autores nativistas e hoje, incontestavelmente, ocupa um lugar de respeito e peso na música tradicional nativista da nossa terra e entre os músicos gaúchos.

Privilegiou-se de oportunidades enriquecedoras como a de compor em parceria com grandes nomes da música Rio-Grandense, dentre eles estão: Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá, Lauro Corrêa Simões, Sérgio Duarte Tarouco, Sérgio Carvalho Pereira, Marco Antônio Xiru Antunes, Jaime Brum Carlos, Juarez Machado de Farias entre outros.
Em 1998 foi convidado por Edson Dutra a integrar o grupo "Os Serranos". A união durou três meses, resultando uma enorme e "placentera" experiência de amizade e respeito mútuo pelo trabalho destes artistas. Em reportagem à revista "Sucesso" Joca Martins é citado pelo grupo em primeiro lugar como um dos seus melhores amigos.
Como fruto e reconhecimento de seu trabalho possui várias de suas composições interpretadas e gravadas por artistas como: Flávio Hansen, Luiz Marenco, Gujo Teixeira, Jairo Lambari Fernandes e Grupo Querência entre outros.
Este último, por exemplo, gravou a conhecida canção "De Fogões e Inverneiras" que resultou em grande sucesso, vindo a fazer parte da coletânea "Melhores Conjuntos Gaúchos", pela gravadora "USA".
"VIDA BUENA", foi o terceiro CD gravado, ambientado numa estância em Santa Vitória do Palmar, mostra um trabalho acústico, com a participação especial do mestre Lúcio Yanel.
Para homenagear o primeiro dos festivais nativistas, JOCA MARTINS grava o CD intitulado "30 ANOS DE CALIFÓRNIA", atingindo a marca de 30.000 exemplares vendidos.
"POR TER QUERÊNCIA NA ALMA", foi gravado pela Centauro Discos, traz no repertório chamamés, chamarras e milongas de seus autores preferidos como Gujo Teixeira, Marcelo Caminha, Xirú Antunes e Zulmar Benitez, além de composições de sua própria autoria.
O sexto CD, gravado pela USA DISCOS, marca o trabalho maduro e moderno do artista que traz e interpreta "COM ALMA GAÚCHA" os clássicos da música riograndense e que conta com a participação da Sociedade Pelotense Música pela Música ,Renato Borghetti, Luiz Marenco, entre outros.
É no contato com o público que Joca Martins expande todo seu talento e carisma, exatamente por que encontra sua própria vocação: a de transmitir às outras pessoas o sentimento do campo e do romantismo pampeano através da poesia e da harmonia melodiosa de suas interpretações.
Joca Martins conquistou diversas premiações entre elas se destacam o “Troféu Vitor Mateus Teixeira - Teixeirinha", de Melhor Cantor, em 2005; o troféu “Açorianos”, também como Melhor Cantor, em 2012; dois Discos de Ouro pelos álbuns "O Cavalo Crioulo" e outro pelo CD "Clássicos da Terra Gaúcha”.
Outras premiações:
MELHOR MÚSICA
7º Chamamento da Arte Nativa de Santana da Boa Vista
8º e 10º Terra e Cor de Pedro Osório
11º Reculuta de Guaiba
12º Poncho verde de Dom Pedrito
3º Canto dos Cardeais de Canguçu
12º Grito do Nativismo Gaúcho de Jaguari
3º e 4º Cirio de Pelotas

MELHOR INTÉRPRETE
7º Chamamento da Arte Nativa Santana de Boa Vista
8º, 10º e 13º Terra e Cor de Pedro Osório
10º e 15º Reculuta de Guaiba
8º Escaramuça de Triunfo
2º e 5º Ramada
8º Comparsa de Pinheiro Machado

MÚSICA MAIS POPULAR
10º Vigília do Canto Gaúcho
4º Cirio de Pelotas

Em homenagem a todos apaixonados pelo rádio, Joca Martins lançou a música de trabalho: “Liga esse rádio”. A canção tem melodia do Joca e foi escrita por Rodrigo Bauer. Os arranjos são de Negrinho Martins e ao trabalho somam-se ainda as participações dos músicos Geovane Marques e Luciano Fagundes.
Para Joca Martins, o rádio é como diz o refrão da música: é a alma viva do galpão. “Imagino que a canção chegue num fundo de campo, com o ronco da cordeona ao longe. Atinja desde a parte urbana e os rincões mais distantes”, enfatiza o cantor.
Valorizo muito a interação com o público, então, produzimos espetáculos onde as pessoas possam sentir as peculiaridades da nossa música, que tem xote e vanerão, mas também tem influências dos ritmos argentinos, como o chamamé e a chacarera, afirma o cantor.
Joca Martins também conta que, um dos momentos mais emocionantes da carreira foi fazer o show de abertura nos 30 anos da Califórnia da Canção Nativa, festival realizado em Uruguaiana, pioneiro no Rio Grande do Sul.
Para Joca, "os festivais são a base de sustentação da música gaúcha, pois revelam novos talentos e envolvem as comunidades onde são realizados. Movimentam, através da cultura, o turismo e o comércio locais, colaborando direta ou indiretamente para o desenvolvimento econômico da região".
Quanto ao cenário da música gaúcha, Joca acha que "deveria haver uma maior valorização, de forma que a música gaúcha ocupasse espaços mais importantes dentro da mídia, estando na mídia, tudo muda, espaço em horários nobres, valorizando a música gaúcha, assim todos os outros fatores de produção iriam melhorar."
Sempre fontes de inspiração, César Passarinho e José Cláudio Machado "criaram uma nova dimensão na forma de interpretar a música gaúcha. Ouvi-los me emociona."
Perguntado sobre a música que canta, Joca responde "tem que ver com o mais terrunho sentimento de amor à terra, ao nosso povo, seus usos e costumes."
Joca Martins foi citado pelo imortal Jayme Caetano Braun como "um intérprete que possui o indispensável ao cantor crioulo: autenticidade".


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