“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

sábado, 27 de junho de 2015

NICO FAGUNDES

BOM DIA RIO GRANDE.... BOM DIA GAÚCHOS E GAÚCHAS DE TODAS AS QUERÊNCIAS, todos nós conhecemos este bordão, ele foi criado e dito inúmeras vezes, por Nico Fagundes, artista multifacetado que rendemos homenagem póstuma no programa de hoje.
Antônio Augusto da Silva Fagundes. Nasceu em 04 de novembro de 1934, na localidade de Inhanduí, no interior do município de Alegrete, local de tradicionais famílias campeiras da fronteira, filho de Euclides Fagundes e Florentina (Mocita) da Silva Fagundes.
Conhecido como Nico Fagundes, foi um Poeta, Compositor, Ator, Advogado, Apresentador De Televisão, Jornalista. Folclorista e Professor de danças folclóricas. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi escoteiro e fundador, sub-chefe e chefe da Tropa "Anhangüera". Na época de estudante destacou-se como poeta e declamador.
Iniciou a carreira jornalística em 1950, aos 16 anos, no jornal Gazeta de Alegrete, o mais antigo do Rio Grande do Sul, nas funções de cronista e repórter. No mesmo período começou a atuar na Rádio ZYE9 - Rádio Alegrete, apresentando programas humorísticos e gauchescos.
Foi secretário dos Cadernos do Extremo Sul, publicações que sob a direção de HelioRicciardi, lançou diversos poetas da cidade de Alegrete.
Em 1954, mudou-se para Porto Alegre e é como poeta que é apresentado ao CTG de 35, por intermédio do poeta Lauro Rodrigues. E nunca deixou de fazer verso. Tornou-se amigo e companheiro de Waldomiro Souza, Horácio Paz, João Palma da Silva, AmandioBicca, Niterói Ribeiro, Luiz Menezes, José Hilário Retamozo, Hugo Ramirez, João da Cunha Vargas, ou seja, a fina flor da poesia gauchesca da época, que freqüentava o rodeio do CTG de 35, às quartas de noite e aos sábados de tarde. Conhece, então, e torna-se amigo de Jayme Caetano Braun, cujo ingresso no 35 CTG vai amadrinhar.
No mesmo ano, tornou-se redator do Jornal A Hora, no qual atuou durante muitos anos com a página Regionalismo e Tradição. O encontro de Antonio Augusto Fagundes, por esta época, com Glauco Saraiva foi histórico: vinham de uma briga pelos jornais, mas quando se encontraram, foi amor à primeira vista, uma amizade tão forte que nem a morte de Glauco conseguiu interromper.
Pelas páginas do jornal A Hora, lançou Jayme Caetano Braun e dois moços que estavam aparecendo com muita força: Aparício Silva Rillo e José Hilário Retamozo. O prestígio que emprestava à obra de outros poetas não fez com que descurasse de sua própria poesia. Ganhou prêmios e concursos em Vacaria, Alegrete e em Porto Alegre.
Em 1955, passou a fazer parte do Instituto de Tradições e Folclore da Divisão de Cultura do Estado. Durante oito anos fez formação em folclorismo, especializando-se em Cultura Afro-gaúcha. Tornou-se professor de danças folclóricas e literatura gauchesca no Instituto de Tradições e Folclore. Viajou para a Europa como sapateador do Grupo Gaudérios, morando em Paris por quatro meses. Iniciou pesquisas de indumentária gaúcha, tornando-se a maior autoridade sobre o assunto no Rio Grande do Sul. Foi contratado pela TV Piratini para atuar como ator.
Foi um dos fundadores do Conjunto de Folclore Internacional, batizado de Os Gaúchos, e do qual foi diretor durante 15 anos. Fundou, no Instituto de Tradições e Folclore, a Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que funcionou durante seis anos. Atuou como titular nas cadeiras de danças folclóricas e indumentária gaúcha. Foi diretor da escola durante seis anos.
No início da década de 1960, conquistou o primeiro lugar em concurso literário promovido pelo Instituto Estadual do Livro, com a obra Destino de Tal. Pouco depois passou a trabalhar na TV Tupi.
Em 1960, ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre. No mesmo ano, casou-se com Marlene Nahas.

Formado em Direito, pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social, todos os seus cursos foram realizados na Universidade Federal do RGS (UFRGS).
Por todas essas suas qualificações, Antonio Augusto Fagundes passou a ser respeitado como autoridade em Folclore gaúcho, História do Rio Grande do Sul, Antropologia, Religiões afro-gaúchas, Indumentária gauchesca, Cozinha gauchesca e danças folclóricas.
Além disso, sempre deu a devida importância à dupla ligação da cultura gaúcha, com o outro Brasil e com os países do Prata. Tornou-se, assim, com o tempo e apoiado em uma biblioteca preciosa, um estudioso sério, respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina, conferencista bilíngüe e autor de inúmeras obras de consulta obrigatória.
Entretanto, a face menos conhecida deste intelectual brilhante, é também sua face mais antiga, a de poeta. Ganhou prêmios e distinções importantes, como a Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro, a Comenda Osvaldo Vergara, da Ordem dos Advogados do Brasil, da qual é também advogado jubilado, e a Comenda do Mérito Oswaldo Aranha (esta última, em 24-10-08, da Prefeitura de Alegrete) “A Comenda Oswaldo Aranha é outorgada pelo município de dois em dois anos, a no máximo cinco cidadãos que, através de seu trabalho artístico, cultural ou intelectual, levam o nome do Alegrete além dos seus limites geográficos”. Premiado incontáveis vezes como poeta, novelista, compositor, autor e ator de teatro, TV e cinema.
Escreveu o roteiro do filme "Para Pedro". Atuou como ator, assistente de direção e consultor de costumes do filme "Ana Terra". Escreveu o roteiro, dirigiu e trabalhou como ator no filme "Negrinho do Pastoreio", com Grande Otelo. Atuou ainda como ator no filme "O Grande Rodeio", o qual também produziu e dirigiu.
Em 1976, ingressou na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore.
Desde 1982 apresentou pela RBS TV (afiliada da TV Globo) o programa Galpão Crioulo, o que lhe rendeu três prêmios internacionais: em Buenos Aires, em Nova York e na Cidade do México.
Em 1984, passou a apresentar o mesmo programa na Rádio Gaúcha. No mesmo ano voltou a atuar no jornalismo, escrevendo no jornal Zero Hora - uma coluna semanal que mantinha até os dias atuais.
Em 1998, comandou em Paris, a apresentação do Grupo "Os Gaúchos". No mesmo ano escreveu a peça teatral “A Proclamação da República Rio-grandense".
Ao longo de sua carreira recebeu diversos prêmios, entre os quais, Prêmio Copa Festivales de España, Medalha de Bronze da Televisão Mundial pelo programa "Galpão Crioulo" e o Troféu Guri da Rádio Gaúcha. Recebeu inúmeros prêmios em poesia, canções gauchescas, declamações, danças folclóricas e teses. É autor de inumeras músicas, entre as quais, "O canto Alegretense".
"O Canto Alegretense", música em que os versos são de sua autoria, é mais cantado que o próprio Hino de Alegrete.
Publicou seu primeiro livro de versos "Com a Lua na Garupa" e depois o segundo "Ainda com a Lua na Garupa". O terceiro tem o nome de "Canto Alegretense", nome tirado da canção famosa cujos versos escreveu. Aliás, neste livro aparecem muitas letras das suas canções mais famosas dentre as 370 gravadas e regravadas por vários intérpretes e parceiros.

Foi um dos fundadores da Confraria dos Cavaleiros da Paz, atualmente Embaixadores da Tradição e do Folclore do Rio Grande do Sul. Aceitou o desafio de um conterrâneo para refazer a cavalo, caminhos antes traçados pela guerra. No dia 1 de junho de 1990, no comando da primeira grande Cavalgada, Nico ponteava e soltava o grito “- De a cavalo, indiada!”, brado que marcaria todas as cavalgadas sob seu comando.
No ano 2000, ele teve um acidente vascular cerebral (AVC), mas se recuperou. Em 2010, chegou a ficar em coma induzido após uma infecção geral no organismo. Dois anos depois, voltou à UTI pelo mesmo problema.
Da fina flor da poesia gauchesca, da época de ouro, de poesia crioula só Antonio Augusto Fagundes continuava em atividade, mantendo acesa a chama.
Nico Fagundes faleceu no dia 24 de junho de 2015, com 80 anos de idade, no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, onde esteve internado por um mês, por problemas respiratórios.

Nico Fagundes, serviu de inspiração, e no seu programa Galpão Crioulo, deu visão, notoriedade, importância para os artistas, para a música, para a dança, enfim para todas as manifestações culturais e diversificadas da nossa terra. Hoje sua partida é sentida em todas as querências, mas o sentimento de gratidão, de reverência ao legado deixado por este grande mestre é o norte que nos guiará em frente.  Nico Fagundes dedicou a vida a cultura gaúcha, e a sua obra é imortal, é nela que o próprio Nico Fagundes ficará eternizado. O tema de abertura do famoso Galpão Crioulo diz o que nós do Galpão Pátria e poesia acreditamos ser a prova da imortalidade do grande mestre:
Eu sei que não vou morrer
Porque de mim vai ficar
O mundo que eu construí
O meu rio grande o meu lar
Campeando as próprias origens
Qualquer guri vai achar.


MUITO OBRIGADO, GRANDE NICO FAGUNDES


“Um abraço, Gaúchos e Gaúchas de todas as querência”

CANTO ALEGRETENSE
(Letra de Antônio Augusto Fagundes e música de Euclides Fagundes)

Não me perguntes onde fica o Alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e de violão.
Pra quem chega de Rosário ao fim da tarde
ou quem vem de Uruguaiana de manhã,
tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no rio Ibirapuitã.

Estribilho:
Ouve o canto gauchesco e brasileiro,
Desta terra que eu amei desde guri;
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro,
Pedra moura das quebradas do Inhanduí.

E na hora derradeira que eu mereça,
Ver o sol alegretense entardecer,
Como os potros vou virar minha cabeça,
Para os pagos no momento de morrer.
E nos olhos vou levar o encantamento,
desta terra que eu amei com devoção.
Cada verso que eu componho é o pagamento,
De uma dívida de amor e gratidão.


FONTES:


AURELIANO DE FIGUEIREDO PINTO

Aureliano de Figueiredo Pinto é, indiscutivelmente, um dos maiores poetas nativistas, de todos os tempos.
Com seu vigoroso regionalismo, o nosso idioma, longe de empobrecer-se, adquiriu novas e cintilantes riquezas.
Seus poemas, nascidos das vivências campeiras, com invernos, tropeadas, rondas, noites longas, chimarrão, e outros temas rudes e belos. São sempre, impregnados de comovente humanismo e iluminados pelo sol de sua fulgurante cultura.
A divulgação de seus versos magistrais é, pois, exigência imperiosa de todos os que cultuam as letras pampeanas e que amam nossa Querência.
A poesia de Aureliano Figueiredo Pinto, profundamente ligada a terra, tem uma extraordinária densidade humana, assumindo sua temática, em muitos passos, o sentido de um canto geral que transcende o mero regionalismo.
Poucos livros refletem com mais autenticidade o homem e a paisagem do Rio Grande do que estes "Romances de Estância e Querência".
Aureliano de Figueiredo Pinto nasceu em 1º de agosto de 1898, na fazenda São Domingos, município de Tupanciretã, filho de Domingos José Pinto e de Marfisa Figueiredo Pinto. Exerceu o ofício de médico, mas por essência foi poeta e escritor.
O processo de alfabetização inicia-se em 1904 quando recebeu aulas de sua mãe. Quatro anos depois no colégio Santa Maria em Santa Maria , seguiu seus estudos, de onde enviou a sua mãe seus primeiros poemas.
Aureliano inicia ali seu martírio, sua ressurreição e sua glória: escrever.
Aos 17 anos, nasceu uma grande amizade com Antero Marques. Antero seria, pela vida afora companheiro, crítico e confidente a dividir aulas, pensões, ruas, e uma infinidade de cartas. Iniciam as discussões políticas, literárias e filosóficas, que os levariam a participar da Revolução de 30. Passou a residir em Porto Alegre 3 anos mais tarde, onde presta o vestibular para Direito, que trocaria mais tarde pela Medicina. Os poemas escritos em meio às anotações escolares antecediam sua estréia com poemas publicados no jornal Correio do Povo, com pseudônimo e nome próprio e nas revistas Kodak e A Máscara, um ano mais tarde.

Amigos passam a classificar seus poemas entre as correntes simbolista e parnasiana. Entre as anotações de aula, Aureliano escreve o poema Gaudério, que marcaria sua vinculação com o nativismo. Anos depois, Gaudério e Toada de Ronda seriam musicados por João Fischer. Segundo testemunhas de Antero Marques, Raul Bopp, entusiasmado com a produção do poeta diria que "Bilac assinaria estes versos" O poema Toada de Ronda é considerado o marco inicial da poesia nativista no Rio Grande do Sul.
Em 1924, parte para o Rio de Janeiro estudar Medicina. Lá, cursa o primeiro e o segundo ano e retorna a Porto Alegre. Lê PajaBrava , do Viejo Pancho, que marcará sua produção artística, e também livros de poetas regionalistas uruguaios e argentinos, que o influencia a escrever poemas em espanhol. Em 1926, volta aos estudos de Medicina no Rio de Janeiro, mas no mesmo ano retorna a Porto Alegre. Somente em 1931, conclui o curso de Medicina, e logo abre seu consultório em Santiago. Abre o coração aos campos e aos tipos humanos que o povoam.
A partir dali o trabalho de médico rouba-lhe o tempo de leitura e criação. Passa a fazer viagens ao interior do município, atendendo a chamados médicos e fica com os peões tomando mate e ouvindo causos.
Três anos mais tarde por falta de dinheiro dos clientes para compra de remédio, suas práticas médicas são interrompidas. Aureliano cria um código que é colocado nas receitas, para que fossem debitadas para alguns de seus amigos. Nessa época, seus poemas são datilografados por Túlio Piva, para quem produz textos para serem lidos na rádio local.

Em 1937, já com quase 40 anos, passa a dirigir o Posto de Higiene de Santiago. Anos mais tarde, seria o fundador do Hospital de Caridade.
Casa com Zilah Lopes, em 29 de dezembro de 1938 com que tem 3 filhos.
Em 1941, troca Santiago por Porto Alegre, assume a subchefia da Casa Civil do interventor Cordeiro de Farias. Fica poucos meses no cargo e retorna a Santiago.
Em 1956 inicia a reunir e selecionar seus poemas, espalhados entre amigos, para publicá-los em livros.
Em 1959 é publicado seu único livro em vida: “Romances de Estância e Querência – Marcas do Tempo”, pela Editora Globo. O filho José Antônio espera até que os primeiros exemplares estejam concluídos. Leva alguns exemplares a Santiago. O poeta está com câncer. Consegue apenas ditar à filha Laura Maria as dedicatórias e assiná-las. Falece no dia 22 de fevereiro daquele ano.
Embora Homem culto, leitor dos clássicos nacionais e estrangeiros, mistura os linguajares culto e popular com maestria.

A experiência de médico dedicado ao atendimento das camadas mais humildes da população foi fundamental para sua obra literária. As longas entrevistas mantidas com homens e mulheres pobres das fazendas e bairros de Santiago, somadas à vivência desde a infância com as atividades rurais, contribuíram para que o escritor dominasse a linguagem e a cultura dos gaúchos a pé e a cavalo.
Sabe-se que Aureliano tinha uma séria restrição quanto à publicação de seus escritos e, quando concordava em publicar, fazia-o através de pseudônimos. Porém, além de poeta, como era conhecido e como não gostava de ser chamado, o escritor atuava como médico, exercendo um papel de suma importância para a comunidade em que vivia. Era conhecido mais pelos serviços que prestava (e isto inclui consultas gratuitas e arrecadação de fundos entre amigos para aquisição de remédios para aqueles que não tinham condições de comprar) do que por seus escritos. Talvez tenha encontrado aí a satisfação pessoal. Talvez escrever, para ele, representasse uma satisfação muito mais íntima que não precisava estar em evidência. Helena Tornquist, ressalta a participação do poeta na vida cultural de Porto Alegre, onde viveu a partir de 1916, podendo vivenciar de perto as transformações político/sociais que geraram instabilidade.
É no romance “Memórias do Coronel Falcão” que esse livre trânsito entre os falares de homens estudados e não escolarizados é mais notável.

A grande influência é Euclides da Cunha, como se pode verificar mediante uma leitura atenda e meditada do romance. Como o autor de “Os Sertões”, mistura palavras eruditas, plebeísmos, arcaísmos e expressões científicas. Neste caso, através de explicações sobre fenômenos. Seguramente, beneficiou-se das críticas feitas aos aspectos formais da “Bíblia da Nacionalidade”.
Típico representante de uma geração que recuperou a obra de Simões Lopes Neto, a presença do autor dos “Contos Gauchescos” é outra constante em sua obra, como lembram os críticos. Ele mesmo foi um grande divulgador da obra literária do escritor pelotense.

Em 1963, é publicado "Ad Sodalibus" pela Livraria Sulina, seu segundo livro de poesias Romances de Estância e Querência – Armorial de Estância e Outros Poemas. Em 1974, é publicada pela Editora Movimento, a novela Memórias do Coronel Falcão. Em 1975, Noel Guarany recebe autorização dos familiares do poeta para musicar Bisneto de Farroupilha e Canto do Guri Campeiro.
A gauchesca, o nativismo, a canção de protesto, o lirismo de recorte clássico, que fazem lembrar “o gauchismo cósmico” de um Fernán Silva Valdés ou de um Pedro Leandro Ipuche, estão presentes na obra poética de Aureliano de Figueiredo Pinto. Poeta culto, usa a profissão de médico para apropriar-se da alma gaúcha, resumindo a evolução estética da poesia popular de raízes regionalistas, a gauchesca. E isso o transforma no mais representativo poeta gauchesco, nativista ou de “outras tendências afins” de língua portuguesa de todos os tempos.
Aureliano de Figueiredo Pinto jamais teve a preocupação de dar ampla publicidade a sua obra. A política, seja partidária ou literária, eram-lhe quase que indiferentes. Possuía uma acurada consciência da durabilidade de sua obra, como vemos neste trecho, dele mesmo, com que a autora Helena Tornquist encerra a biografia que dedicou ao escritor: “A nossa vida, na renúncia de sua modéstia tem algo a dizer à mocidade de amanhã, porque foi vivida à nossa maneira, ao jeito do fio d’água que corre à margem da barulhenta cascata que é a opinião-do-Senhor-todo-Mundo”.
A obra de Aureliano é considerada um clássico da nossa literatura, porque ultrapassou seu tempo, persistindo de alguma maneira na memória coletiva e sendo atualizada por sucessivas leituras, no transcurso da história.
A obra de Aureliano apresenta paixões humanas de maneira intensa, original e múltipla.

Sua obra registra e simultaneamente inventa a complexidade de seu tempo.
A obra de Aureliano possui reconhecido valor histórico, mesmo não alcançando a universalidade inconteste.
Um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, Aureliano de Figueredo Pinto não gostava de ser chamado de poeta, sua obra praticamente só foi conhecida e divulgada após a sua morte, não escrevia para a apreciação dos outros, a poesia era um campo privado, particular onde suas angústias, inquietações, e emoções eram registradas em papel. Nos dias atuais onde a busca pela fama ultrapassa a barreira do ridículo, e muitos se auto intitulam poetas, apenas por fazerem linhas com rimas, fazer esta homenagem soa como obrigatória para quem busca conhecer a verdadeira poesia. O inusitado é que se estivesse vivo Aureliano não veria com bons olhos tamanha exposição.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

GAÚCHO DA FRONTEIRA

   
 Gaúcho da Fronteira, é o nome artístico de Heber Artigas Armua Fróis, que nasceu na cidade de Laureles, província de Tacuarembó, no Uruguai em 23 de junho de 1947, é cantor, músico e Brasileiro naturalizado desde 2009. É um dos mais conhecidos intérpretes de música regional gaúcha.
     Veio morar em Santana do Livramento, com 7 anos de idade, botava o acordeon no colo e o instrumento ficava encostando no queixo, também começou a tocar violão e bandoneón. Começou a estudar música solito. Nos tempos de colégio, o Gaúcho da fronteira participava de um grupo folclórico lá em Santana do Livramento, o tempo foi passando, e formou-se uma banda , Os Vaqueanos, ali o Gaúcho da Fronteira começou a escrever, era 1965, fazendo parte dos Vaqueanos começou a gravar em 1970.
      Em 1975 gravou o primeiro LP solo, Gaúcho da Fronteira, e firmou-se como um representante da tradicional música dos pampas. Nos anos 80, sua popularidade estendeu-se pelo Brasil todo, com suas canções bem-humoradas e dançantes.
      Na década de 1990 voltou-se para outras manifestações musicais tradicionais brasileiras, lançando em 1999 o CD Forronerão, ao lado do grupo Brasas do Forró, unindo o folclore brasileiro de um extremo a outro do país.
     Deste disco emplacaram os sucessos "Forronerão", mistura de forró e vanerão, e "Vanerão Sambado" que, como o nome sugere, mistura vanerão com samba.
Gaúcho da Fronteira construiu sua carreira preocupando-se sempre em renovar e buscar novos caminhos. Tanto que, apesar de ser considerado um artista de música regional, a mistura de ritmos sempre foi sua marca pessoal.
     "O Brasil regional está se unindo de ponta a ponta", comenta Gaúcho da Fronteira. Sem dúvidas, unir o forró ao vanerão revitalizou a música nordestina e tem tudo para marcar a renovação da música típica do sul. "Os nordestinos têm interesse em que a gente beba a cultura deles e vice-versa. Gaúchos e nordestinos, se têm uma gaita, fazem a festa", completa o artista.
   
 A declaração é confirmada pelos Brasas do Forró. E para aqueles que acharem a mistura do vanerão com o forró estranha, uma explicação: "A música nordestina tem muito a ver com a gaúcha, as semelhanças são muito grandes. Enquanto o cearense tem a ginga, o gaúcho tem o balanço. E, nessa época de globalização, tu transmites a música e irmanas o Brasil de ponta a ponta". Conselho de um artista que, é reconhecido como um dos expoentes da música do Sul.
      Atualmente o Gaúcho da Fronteira mora em Eldorado do Sul RS, com uma discografia com mais de 38 LPS, mais de 20Cds, 6 discos de ouro, 2 discos de platina, mais de cinco milhões de discos vendidos pelo Rio Grande, Pelo Brasil e Pelo Mundo.
      Sobre as músicas de maior sucesso do Gaúcho da Fronteira citamos a famosa música NHECO VARI, NHECO FUM, que rendeu o primeiro disco de Ouro do artista, depois o FORRÓNEIRÃO, O VANERÃO SAMBADO, entre outras. Segundo o Gaúcho da Fronteira, umas músicas tocam mais no sul, outras mais no centro, ou no Mato Grosso, enfim, cada região gosta mais de alguma música.
Na década de 80, Gaúcho da Fronteira, Lançou a música Herdeiros da Pampa Pobre, um estrondoso sucesso gravado também pela banda de rock gaúcha Engenheiros do Havaí.
     Aliás o Gaúcho da Fronteira, possui mais de 40 músicas regravadas por outros artistas principalmente por bandas nordestinas. Segundo Gaúcho da Fronteira o seu trabalho é muito bem aceito em todo o território nacional.
Gaúcho da Fronteira, também fez um filme, intitulado Gaúcho Negro, que contava no elenco com a participação da atriz Letícia Spiller, da Xuxa, e de Cláudio Henrich, mas na descrição do próprio artista o cinema é muita marmeladinha, muita panelinha, prende muito. Então decidiu seguir cantando e tocando, fazendo shows, espetáculos e festas.
     Gaúcho da Fronteira já fez trabalhos com a participação de artistas, como “Chitaozinho e Xororó”, “Leandro e Leonardo”, “Ataíde e Alexandre”, e grupos do Rio Grande do Sul, como, “Os Serranos”, o “Grupo Minuano”, os “Garotos do Fandango”, “Chiquito e Bordoneio” e Grupo Minuano.
Apaixonado por Futebol, colorado de carteirinha, Gaúcho da Fronteira é Cônsul Cultural do Internacional.
   Hoje a marca Gaúcho da Fronteira é sinônimo de alegria, um uruguaio, criado no bairrismo da fronteira do Rio Grande do Sul, que ama a música nordestina e que tem música gravada por banda de rock. O Gaúcho da Fronteira, é um músico sem fronteiras, seu estilo musical incorpora outros ritmos, sua arte não se enquadra em modelos ou regulamentos, sua música é popular na essência. Sua alegria é contagiante, e mesmo não sendo mais um piazito, possui agenda cheia o ano inteiro.
Podemos notar nitidamente algumas características na música do Gaúcho da Fronteira, como por exemplo: a Mistura, a Alegria, o Intercâmbio Cultural, a irreverência e a criatividade.
Com sua arte, levou o nome do Rio Grande do Sul, para todo o Brasil, e para o mundo, apresentando-se em todo o mecosul, e também nos estados Unidos, e na Europa, sem se preocupar com preconceitos ou com estereótipos.
É um artista que agrega, que junta gente, e não interessa a roupa, o sotaque, ou a bebida favorita, a música é a linguagem universal que une os povos, e o Gaúcho da Fronteira é o exemplo vivo desta verdade.

DISCOGRAFIA
·         Gaúcho da Fronteira (1975) - Beverly
·         Mensagem do Sul (1976) - Copacabana
·         Meu Rastro (1980) - Rodeio/WEA
·         Isto Que é Gaiteiro Bom (1981) - Rodeio/WEA
·         Gaita Companheira (1984) - Rodeio/WEA
·         Na Base do Varifum (1985) - WEA/Warner Music
·         Rio Grande de Sempre (1986) - WEA
·         O Toque do Gaiteiro (1987) - WEA
·         Gaiteiro, China e Cordeona (1988) - Chantecler
·         Gaitaço (1990) - Chantecler
·         Acordes Orientais (1991) - Chantecler
·         Pêlo Duro (1992) - Chantecler
·         Tão Pedindo um Vanerão (1994) - Chantecler/Warner Music
·         Amizade de Gaiteiro (1996) - Continental/East West
·         Xucro de Campanha (1998) - Warner Music
·         Canta Para Elas (2000) - Continental/East West
·         Para Sempre: Gaúcho da Fronteira (2002) - EMI
·         Balança Brasil (2002)
·         Bailão do Gaúcho da Fronteira (2002)
·         De Vanerão a Chamamé (2007) - Atração Fonográfica
·         Gaúcho Doble Chapa (2008) - Gravadora ACIT

Álbuns ao vivo
·         Forronerão ao Vivo - Gaúcho da Fronteira e Brasas do Forró (1999) - Warner Music

Coletâneas
·         Gaúcho Negro (1991) - Som Livre
·         Seleção de Ouro (2001)
·         30 Anos de Sucesso (2005)

FONTE:

sábado, 6 de junho de 2015

ADELAR BERTUSSI


Adelar Bertussi Siqueira nasceu em Caxias do Sul/RS, no dia 10 de Fevereiro de 1933. Músico gaúcho, Adelar criou com seu irmão Honeyde Bertussi um grupo de baile que recebeu o nome de Irmãos Bertussi.
Os "Irmãos Bertussi" marcaram a época na música Brasileira a partir de 1955, porém a saga desta família Italiana atravessa todo o século XX na música do Rio Grande do Sul, iniciando-se com a chegada de João Bertussi que fez parte do grupo de imigrantes italianos que se estabeleceram na Serra Gaúcha no fim do século XIX.
Da união entre Fioravante e Josefina, nasceram quatro filhos. Entre eles, com 10 anos de diferença, Honeyde (1923) e Adelar (1933). A família foi formada em São Jorge da Mulada, distrito de Criúva, em São Francisco de Paula, local que hoje pertence a Caxias do Sul, mas era muito mais próximo de Vacaria;
Fioravante era um clarinetista estudioso e tornou-se maestro de uma das primeiras bandas serranas em 1920.
Adelar Bertussi já tocava cavaquinho com apenas 6 anos de idade e  se apresentava em carreiras para ganhar uns trocados.
E com 10 anos tocava gaita ponto.
Nesta mesma época o Oneide comprou o primeiro acordeon todeschini, e o irmão mais novo ADELAR BERTUSSI, passou a estudar o novo instrumento.
Os filhos estudaram teoria musical o colheram o que de melhor havia em folclore e gêneros regionais diretamente das fontes. Alias, não só viviam essas realidades cotidianas, como logo eles próprios tornaram-se fontes.
Os quatro irmãos começam a tocar juntos. Quando Wilson e Valmor deixam de participar do grupo, Honeyde e Adelar continuam como dupla. O nome Irmãos Bertussi é denominado artisticamente a partir de 1949.
Os irmãos bertussi, na descrição feita certa vez em uma entrevista para a televisão, nunca foram gênios musicais, mas sempre foram extremamente competentes no que faziam. Um gênio não precisa estudar as coisas brotam naturalmente certas de seu talento. Mas Os Bertussi, estudaram, e se dedicaram a música, tanto que quando foram gravar suas músicas elas já estavam totalmente orquestradas, sem precisar nenhuma correção.
Tudo o que os Bertussi faziam virava modelo, quando Adelar começou a usar o tirador para tocar baile, os outros gaiteiros também passaram a utilizar. Quando a dupla Os irmãos Bertussi começou a fazer sucesso, surgiram inúmeras duplas iniciadas pela expressão Os irmãos.
Muitos anos depois Adelar Berturssi formou dupla com itajaíba mattana,uma dupla chamada os cobras do teclado, e as músicas desta dupla eram frequentemente tocadas até no programa do chacrinha no rio de janeiro. No rio Grande do Sul, em menos de uma ano existiam várias duplas e conjuntos que em que os nomes eram precedido da expressão os cobras.
Para Adelar Bertussi, na região em que ele toca, os bailes atuais não mudaram  muito dos bailes de antigamente, e a música de raiz ainda é a que prevalece, é a que mais agrada.
Sobre o estilo de tocar, Adelar revelou que  a  música gaúcha de baile foi de certa forma iniciado por ele e pelo irmão Oneyde, porque o Oneyde que era mais velho recolheu algumas canções dos gaiteiros de gaita ponto que existiam antigamente, aqueles do fundo dos rincões, que tocavam mais e cantavam menos, resgatando canções, como por exemplo, o xote laranjeira, mané romão, o calça larga, e partindo destas músicas começaram a inventar o seu próprio estilo musical.
O maior sucesso da dupla, "Oh de Casa", foi gravado em disco de mesmo nome, em 1962, também gravaram outros sucessos como "Cancioneiro das Coxilhas", "São Francisco é Terra Boa", "Cavalo Preto", "Sangue de Gaúcho" e "O Casamento da Doralice".
Estabelecidos na região serrana, "Os Bertussi" difundiram instrumentos musicais (especialmente a gaita) através de seu entreposto comercial. Criaram uma escola musical baseada na técnica apurada e na leitura musical. Isto os diferenciou na música regional.
Em 1965 a música Bertussi conta coma a participação de Daltro Bertussi.
Em 1980 Adelar e Gilney, gravam os Bertussi Pai e Filho.
Segundo , Edson Dutra líder do grupo os Serranos , adelar bertussi gravou o primeiro bugio, o casamento da doralícia, aliás, é bom salientar que para  Adelar Bertussi, o ritmo bugio é mais antigo do que se acredita, é uma música indígena, e com forte semelhança com o baião nordestino. Não  acredita que tenha surgido em São Francisco de Assis, ou São Francisco de Paula, acredita que o bugio é anterior a nossa música moderna.
Para Adelar  Bertussi a maior contribuição que os Bertussi deram para a nossa cultura, foi o Melhoramento do nosso Folclore, com músicas mais elaboradas, e isso se deve ao fato de  terem sido muito perfeccionistas.
Em uma visita a fazenda de Adelar Bertssi, Luiz Gonzaga deu um conselho para adelar bertussi: sempre toque para o povo, nunca para os colegas músicos, porque quem te contrata e de reconhece, é o povo.
Talvez a cultura gaúcha nem possa dimensionar ainda a influência e real importância dos "Bertussi", mas, eles representam diretamente a ascendência Italiana na sociedade gaúcha do século XX e todos os seus significados.
No começo do século XX os temas recorrentes são sobre a índole musical gaúcha, que predominavam os temas tristes, sombrios e carregados. Em contraponto a este debate, "Os Bertussi" infundem uma escola musical de baile, com música apropriada para a dança e a alegria característica do povo Italiano.
Somando a isso, ainda há que se frisar o aspecto importante do espírito inovador destes músicos.
A primeira grande revolução que causaram foi a de utilizar dois acordeons ao invés da costumeira dupla violão/acordeom. Isto só foi possível, porque Adelar e Honeide eram exímios instrumentistas e escreviam as partituras rearranjando os temas de modo que os instrumentos se completassem. Era como um só acordeom tocando a quatro mãos.
Anos depois, já no início dos anos 50, Incorporaram a bateria ao baile gaúcho. Bateria era, então, um instrumento utilizado pelos jazzistas e havia entrado no RS a partir de 1924. "Os Bertussi" sabiam o que queriam. Na época não existiam equipamentos de som (microfones, amplificadores e caixas de som são coisas dos anos 60). Precisavam de volume, de potência sonora para os bailes cada vez maiores.
Assim é que "Os Bertussi" estiveram na linha de frente da música ao gravar temas eruditos em acordeom para o mercado nacional e ao revolucionar a execução musical dentro do estado. Esta saga vitoriosa cruza todo o século XX e adentra o século XXI.
Adelar e seu irmão foram os pioneiros da música tradicionalista gaúcha, e também foi o primeiro grupo a incluir a bateria em bailes, fato inédito, porque na época os artistas se apresentavam nos bailes com um pandeiro, uma gaita, um violão e um bumbo legüero.
O cantor Adelar Bertussi é hoje é referenciado como um símbolo do tradicionalismo.
Adelar deixou 'Os Bertussi' no ano de 1998, e passou o cargo para seu filho. E seguindo a trajetória Musical da Família Bertussi, Gilney prossegue a jornada com o grupo “OS BERTUSSI - Nova Geração”, que mantém viva a tradição, animando muitos bailes pela região sul do país e além fronteiras.
O estilo fandangueiro das duas gaitas permanecem até hoje, que é a marca inconfundível da música Bertussi. Não é a toa que eles se referem constantemente à "Música Bertussi". Com toda a razão, eles criaram escola.
Hoje OS BERTUSSI é um grupo musical que atua em todos os estados do Sul, Paraguai, MT, MS, TC, BA, MG, entre outros.
Mantem sempre um repertório atualizado assim como a estrutura de equipemento de audio, iluminação, meio de locomoção, mantendo assim, sua legião de fâs e conquistando inclusive público de todas a idades.
Hoje Adelar apresenta-se em shows pelo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Adelar Bertussi é um mito da música gaúcha e do acordeom brasileiro. Não há um gaiteiro do sul, que aprecie a música de raiz do seu estado, que não seja influenciado pelos Irmãos Bertussi, parceria de Adelar com seu irmão, Honeyde, falecido em 1996. O duo, que tocou em bailes por todo o país, contribuiu muito para estabeler e firmar aspectos da cultura tradicional gaúcha, perpetuados hoje pela nova geração. Adelar, no entanto, não se relacionou apenas com músicos de seu estado; entre as amizades que fez com sanfoneiros de diversas regiões, uma em especial lhe marcou muito: a de Luiz Gonzaga, que, além de bom amigo, admirava muito seu estilo original de tocar. Hoje Adelar mora em Curitiba, cidade de sua esposa, mas segue viajando e tocando sua gaita Brasil afora, divulgando a mais autêntica música tradicional gaúcha.
TERMINO, CITANTO PALAVRAS DE ADELAR BERTUSSI, DANDO A SUA DEFINIÇÃO PARA A   MÚSICA.
Música não é profissão que se aprende... música... é missão que se cumpre.
Música é arte divina, é com ela que eu vivo, é ela que me dá saúde, e que me dá o prazer de tocar para o povo.


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