“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

domingo, 15 de fevereiro de 2015

CENAIR MAICÁ

A INFÂNCIA
No dia 03 de maio de 1947, na localidade de Águas Frias, município de Tucunduva, então distrito de Santa Rosa, nascia um menino que se tornaria um dos maiores cantores e divulgadores da região missioneira: CENAIR MAICÁ. Filho de Armando Maicá, popularmente conhecido por “seu Mandico”, e Orcina Lamarque Maicá.
Aos três anos, Cenair cruzou a fronteira do Brasil com a Argentina, juntamente com sua família, onde passou a conhecer e a conviver com a realidade dos dois países, este dado foi decisivo para a formação de sua personalidade musical. Estudou o primário no colégio General Belgrano, em Três Pedras, Oberá (Misiones).
Criado no meio de madeireiros, balseiros e pescadores, vivendo em acampamentos de extração de madeira que existiam tanto do lado brasileiro quanto do lado argentino, às margens do Rio Uruguai. Com os peões argentinos e paraguaios que trabalhavam com seu pai, Cenair foi absorvendo desde cedo à musicalidade de suas formas de expressão. Conheceu um dos seus primeiros incentivadores para a arte da música, um paraguaio de nome Fernandes, que lhe ensinou a dedilhar o violão.

A CARREIRA
CENAIR MAICÁ passou a maior parte de sua vida em Santo Ângelo, onde começou a carreira musical, ao lado do irmão Adelqui, formando a dupla Irmãos Maicá. Participou de apresentações ao lado de José Mendes e depois com Noel Guarany, chegando a ter música proibida pela censura.
            Cenair fez sua entrada triunfal na história da música gaúcha ao vencer o 7º Festival do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina, com “Fandango na Fronteira”. Dividiu o palco com o parceiro da composição, Noel Guarany.
Foi à consagração de ambos e de cada um, como artista e também dos esforços iniciados pelos dois juntamente com Pedro Ortaça em 1966, quando lançaram um manifesto reivindicando a herança guarani e anunciando a intenção de criar, a partir dela, uma nova arte missioneira.
A vitória no 7º Festival do Folclore Correntino em Santo Tomé rendeu a Cenair e Noel a gravação de um disco compacto, “Filosofia de Gaudério” (1970). Em 1978, Cenair lançou "Rio de Minha Infância", o primeiro de sua carreira solo, o que talvez não seja a palavra adequada, pois, a produção e a direção couberam a Noel Guarany, autor, também, de quatro das dez músicas que o integram.
            Maicá é um dos quatro TRONCOS que integram a cultura missioneira sulina, ao lado de: JAYME CAETANO BRAUN, PEDRO ORTAÇA e NOEL GUARANY. O grupo de amigos e artistas colaborou para que a identidade gaúcha se expandisse para além da região da campanha, também junto a eles, foi responsável por inserir as Missões no mapa histórico e cultural oficial do estado, desencadeando a redefinição de uma identidade gaúcha até então calcada quase exclusivamente na exaltação dos senhores feudais da região da campanha.
               A postura de irmandade para com os países latino-americanos vizinhos é forte em sua arte. “A história missioneira não pertence somente ao Rio Grande do Sul, mas também à Argentina e ao Uruguai”, diz Cenair em entrevista gravada no Museu Antropológico Augusto Pestana.
            Cantor e instrumentalista brasileiro de música nativista, Maicá era um ativista. Cantava por uma causa. Um exemplo são os versos de um dos seus maiores sucessos, “Canto Livre”. Maicá destacou em seu trabalho temas como natureza, água, terra, índios a relação com o Rio Uruguai, a preocupação com os problemas do homem rural e o destino “dos herdeiros de São Miguel” que viviam à beira das estradas artesanando balaios para pão e “pinga”.
Com uma voz característica, ora forte, ora suave, foi autor e intérprete de sucessos como “Da terra nasceram Gritos”, nas canções "Homem Rural" e "Balaio, Lança e Taquara", Cenair fala das agruras que atravessava a gente simples do interior gaúcho: camponeses, balseiros, índios... Já na canção "João Sem Terra", Cenair satiriza a política habitacional do regime de 64 descrevendo as agruras imaginárias de um conhecido passarinho. Em Rio Ibicuí, lembraria o ambiente dos acampamentos.
Cenair sabia dos obstáculos que existiam no caminho que escolheu. O enfrentamento com os monopólios fonográficos fazia parte de suas preocupações. "As multinacionais do disco infiltravam a música norte-americana" — recordou em uma entrevista, realizada em 1982 no Museu Antropológico Augusto Pestana — diz Maicá, "mas nós tínhamos um compromisso de manter a cultura missioneira". Nisto, como em muitas coisas, comungava das mesmas idéias de seu parceiro Noel Guarany.
Os propósitos de Cenair e o grau de consciência que ele tinha do que estava em jogo no momento histórico que lhe coube viver no Rio Grande do Sul ficam muito claros em várias de suas entrevistas. "Eu acho que o músico, além de cantar as coisa alegres, a paisagem, a história, tem o dever de ser útil ao povo com o qual convive no dia-a-dia. Então eu procuro, dentro da minha música, dizer alguma coisa que possa motivar ou sensibilizar pessoas no sentido de resolver certos problemas de nosso povo. Porque nós, os artistas, temos uma força na mão, que é o instrumento, e temos a oportunidade de nos comunicar com o povo através dos canais de divulgação. Então temos o dever de ser útil ao povo" — declarou ao jornal Cotrifatos, da Cooperativa Tritícola de Santa Rosa (Cotrisa), em agosto de 1983. Foi certamente esta preocupação que inspirou várias de suas letras.
Em entrevista ao Jornal Zero Hora, em 1985, disse: - Eu canto o que vivo, não minto. O que não vivi, pego de outros poetas para cantar.

A MORTE
            Maicá viveu pouco. Aos 17 anos de idade, num acidente, perdeu um rim, o que veio, mais tarde a comprometer sua saúde e influenciar em seu falecimento.
Em 1984 iniciaram os problemas de saúde, e o rim que ainda possuía começou a falhar. Necessitou fazer hemodiálise, debilitando ainda mais a saúde. Finalmente, em 1985 realizou o transplante de um rim, sendo o doador o irmão Darci Maicá. A penúltima internação hospitalar, em dezembro de 1988 teve como objetivo colocar uma prótese femural. Morreu em 02 de janeiro de 1989, após passar por um transplante aos 41 anos, na capital gaúcha. Como era de seu desejo, foi enterrado pilchado, de botas e lenço vermelho.
            Seus restos mortais encontram-se no Cemitério Sagrada Família em Santo Ângelo, onde existe um memorial para homenagear o cantor, compositor e poeta missioneiro. O mausoléu tem dois pilares, um representando a MÚSICA e o outro a POESIA, com uma frase no centro: "Se meu destino é cantar, eu canto", logo abaixo da inscrição, Cenair Maicá, Cantor Missioneiro, estão mais duas citações. Ao lado da data de nascimento "Nasce o poeta" e ao lado da data de sua morte, consta "O mundo fica mais triste". Capas de seus discos e fotos também estão no local. Outras duas marcas constantes do mausoléu são a cruz missioneira e um violão, símbolo e material que Cenair sempre carregava, no peito e nos braços.
Morreu, deixando em seu registro musical um atestado de amor às suas origens e a prova de que através da música era possível contar a história de forma popular, dando voz à memória coletiva, alertando a todos dos erros cometidos no passado e a necessidade básica de fortalecer a identidade para construção de um futuro mais humano e social.
Sua arte, porém permanece viva, pois, CENAIR MAICÁ é, hoje, uma referência para todos aqueles que se propõem defender o patrimônio natural, histórico, cultural, econômico e, principalmente, humano do Rio Grande do Sul.

HOMENAGEM
            O programa VIDA NO SUL apresentado por ANTÔNIO GRINGO rendeu homenagem ao grande CENAIR MAICÁ, ao completar 25 anos de sua morte, reunindo seus familiares.
O evento ocorreu no município de Três Passos, no norte do Rio Grande do Sul, para gravar um programa especial sobre Cenair, relembrando suas canções e trajetória. Participaram da gravação do programa Valdomiro Maicá, Vilson Maicá jr., Alexandre Maicá, Vitão Maicá, Tato Maicá, Miguel Caray Maicá, Eduardo Maicá. A reunião de família foi registrada no Galpão do Missioneiro, espaço cultural erguido por Valdomiro Maicá.

DISCOGRAFIA




















FONTE DA PISQUISA:






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