No dia 03 de
maio de 1947, na localidade de Águas Frias, município de Tucunduva, então
distrito de Santa Rosa, nascia um menino que se tornaria um dos maiores
cantores e divulgadores da região missioneira: CENAIR MAICÁ. Filho de Armando
Maicá, popularmente conhecido por “seu Mandico”, e Orcina Lamarque Maicá.
Aos três anos,
Cenair cruzou a fronteira do Brasil com a Argentina, juntamente com sua
família, onde passou a conhecer e a conviver com a realidade dos dois países, este
dado foi decisivo para a formação de sua personalidade musical. Estudou o
primário no colégio General Belgrano, em Três Pedras, Oberá (Misiones).
Criado no meio de
madeireiros, balseiros e pescadores, vivendo em acampamentos de extração de
madeira que existiam tanto do lado brasileiro quanto do lado argentino, às
margens do Rio Uruguai. Com os peões argentinos e paraguaios que trabalhavam
com seu pai, Cenair foi absorvendo desde cedo à musicalidade de suas formas de
expressão. Conheceu um dos seus primeiros incentivadores para a arte da música,
um paraguaio de nome Fernandes, que lhe ensinou a dedilhar o violão.
A
CARREIRA
CENAIR MAICÁ
passou a maior parte de sua vida em Santo Ângelo,
onde começou a carreira musical, ao lado do irmão
Adelqui, formando a dupla Irmãos Maicá. Participou de apresentações ao lado de
José Mendes
e depois com Noel Guarany, chegando
a ter música proibida pela censura.
Cenair
fez sua entrada triunfal na história da música gaúcha ao vencer o 7º Festival
do Folclore Correntino em 1970, em Santo Tomé, na Argentina, com “Fandango na
Fronteira”. Dividiu o palco com o parceiro da composição,
Noel Guarany.
Foi à
consagração de ambos e de cada um, como artista e também dos esforços iniciados
pelos dois juntamente com Pedro Ortaça em 1966, quando lançaram um manifesto
reivindicando a herança guarani e anunciando a intenção de criar, a partir
dela, uma nova arte missioneira.
A vitória no 7º
Festival do Folclore Correntino em Santo Tomé rendeu a Cenair e Noel a gravação
de um disco compacto, “Filosofia de Gaudério” (1970). Em
1978, Cenair lançou "Rio de Minha Infância", o primeiro de sua
carreira solo, o que talvez não seja a palavra adequada, pois, a produção e a
direção couberam a Noel Guarany, autor, também, de quatro das dez músicas que o
integram.
Maicá é um dos quatro TRONCOS que integram a cultura missioneira sulina, ao lado
de: JAYME CAETANO BRAUN, PEDRO
ORTAÇA e NOEL GUARANY. O grupo de amigos e artistas colaborou para
que a identidade gaúcha se expandisse para além da região da campanha, também junto a eles,
foi responsável por inserir as Missões no mapa histórico e cultural oficial do
estado, desencadeando a redefinição de uma identidade gaúcha até então calcada
quase exclusivamente na exaltação dos senhores feudais da região da campanha.
A postura de irmandade para com
os países latino-americanos vizinhos é forte em sua arte. “A história
missioneira não pertence somente ao Rio Grande do Sul, mas também à Argentina e
ao Uruguai”, diz Cenair em entrevista gravada no Museu Antropológico Augusto
Pestana.
Cantor e instrumentalista brasileiro
de música nativista, Maicá
era um ativista. Cantava por uma causa. Um exemplo são os versos de um dos seus
maiores sucessos, “Canto Livre”. Maicá
destacou em seu trabalho temas como natureza, água, terra, índios a
relação com o Rio Uruguai, a preocupação com os problemas do homem rural e o
destino “dos herdeiros de São Miguel” que viviam à beira das estradas
artesanando balaios para pão e “pinga”.
Com uma voz
característica, ora forte, ora suave, foi autor e intérprete de sucessos como
“Da terra nasceram Gritos”, nas canções "Homem Rural" e "Balaio,
Lança e Taquara", Cenair fala das agruras que atravessava a gente simples
do interior gaúcho: camponeses, balseiros, índios... Já na canção "João
Sem Terra", Cenair satiriza a política habitacional do regime de 64
descrevendo as agruras imaginárias de um conhecido passarinho. Em Rio
Ibicuí, lembraria o ambiente dos acampamentos.
Cenair sabia dos
obstáculos que existiam no caminho que escolheu. O enfrentamento com os
monopólios fonográficos fazia parte de suas preocupações. "As
multinacionais do disco infiltravam a música norte-americana" — recordou
em uma entrevista, realizada em 1982 no Museu Antropológico Augusto Pestana — diz
Maicá, "mas nós tínhamos um compromisso de manter a cultura
missioneira". Nisto, como em muitas coisas, comungava das mesmas idéias de
seu parceiro Noel Guarany.
Os
propósitos de Cenair e o grau de consciência que ele tinha do que estava em
jogo no momento histórico que lhe coube viver no Rio Grande do Sul ficam muito
claros em várias de suas entrevistas. "Eu acho que o músico, além de
cantar as coisa alegres, a paisagem, a história, tem o dever de ser útil ao
povo com o qual convive no dia-a-dia. Então eu procuro, dentro da minha música,
dizer alguma coisa que possa motivar ou sensibilizar pessoas no sentido de
resolver certos problemas de nosso povo. Porque nós, os artistas, temos uma força
na mão, que é o instrumento, e temos a oportunidade de nos comunicar com o povo
através dos canais de divulgação. Então temos o dever de ser útil ao povo"
— declarou ao jornal Cotrifatos, da Cooperativa Tritícola de Santa Rosa
(Cotrisa), em agosto de 1983. Foi certamente esta preocupação que inspirou
várias de suas letras.
Em entrevista ao
Jornal Zero Hora, em 1985, disse: - Eu canto o que vivo, não minto. O que não
vivi, pego de outros poetas para cantar.
A MORTE
Maicá viveu pouco. Aos 17 anos de idade,
num acidente, perdeu um rim, o que veio, mais tarde a comprometer sua saúde e
influenciar em seu falecimento.
Em 1984
iniciaram os problemas de saúde, e o rim que ainda possuía começou a falhar.
Necessitou fazer hemodiálise, debilitando ainda mais a saúde. Finalmente, em
1985 realizou o transplante de um rim, sendo o doador o irmão Darci Maicá. A
penúltima internação hospitalar, em dezembro de 1988 teve como objetivo colocar
uma prótese femural. Morreu em 02 de janeiro de 1989, após passar por
um transplante aos 41 anos, na capital gaúcha. Como era de seu desejo, foi
enterrado pilchado, de botas e lenço vermelho.
Seus restos mortais encontram-se no Cemitério Sagrada Família
em Santo Ângelo, onde existe um memorial para homenagear o cantor,
compositor e poeta missioneiro. O mausoléu tem dois pilares, um representando a
MÚSICA e o outro a POESIA, com uma frase no centro: "Se meu destino é
cantar, eu canto", logo abaixo da inscrição, Cenair Maicá, Cantor
Missioneiro, estão mais duas citações. Ao lado da data de nascimento
"Nasce o poeta" e ao lado da data de sua morte, consta "O mundo
fica mais triste". Capas de seus discos e fotos também estão no local. Outras
duas marcas constantes do mausoléu são a cruz missioneira e um violão, símbolo
e material que Cenair sempre carregava, no peito e nos braços.
Morreu, deixando
em seu registro musical um atestado de amor às suas origens e a prova de que
através da música era possível contar a história de forma popular, dando voz à
memória coletiva, alertando a todos dos erros cometidos no passado e a
necessidade básica de fortalecer a identidade para construção de um futuro mais
humano e social.
Sua
arte, porém permanece viva, pois, CENAIR MAICÁ é,
hoje, uma referência para todos aqueles que se propõem defender o patrimônio
natural, histórico, cultural, econômico e, principalmente, humano do Rio Grande
do Sul.
O
programa VIDA NO SUL apresentado por ANTÔNIO GRINGO rendeu homenagem ao grande
CENAIR MAICÁ, ao completar 25 anos de sua morte, reunindo seus familiares.
O evento ocorreu
no município de Três Passos, no norte do Rio Grande do Sul, para gravar um
programa especial sobre Cenair, relembrando suas canções e trajetória. Participaram
da gravação do programa Valdomiro Maicá, Vilson Maicá jr., Alexandre Maicá,
Vitão Maicá, Tato Maicá, Miguel Caray Maicá, Eduardo Maicá. A reunião de
família foi registrada no Galpão do Missioneiro, espaço cultural erguido por
Valdomiro Maicá.
Vida no Sul homenageia o cantor missioneiro Cenair Maicá,
25 anos após sua morte (Texto de
Marcelo Ferreira)
DISCOGRAFIA
FONTE DA PISQUISA:
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