“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

sábado, 27 de junho de 2015

NICO FAGUNDES

BOM DIA RIO GRANDE.... BOM DIA GAÚCHOS E GAÚCHAS DE TODAS AS QUERÊNCIAS, todos nós conhecemos este bordão, ele foi criado e dito inúmeras vezes, por Nico Fagundes, artista multifacetado que rendemos homenagem póstuma no programa de hoje.
Antônio Augusto da Silva Fagundes. Nasceu em 04 de novembro de 1934, na localidade de Inhanduí, no interior do município de Alegrete, local de tradicionais famílias campeiras da fronteira, filho de Euclides Fagundes e Florentina (Mocita) da Silva Fagundes.
Conhecido como Nico Fagundes, foi um Poeta, Compositor, Ator, Advogado, Apresentador De Televisão, Jornalista. Folclorista e Professor de danças folclóricas. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi escoteiro e fundador, sub-chefe e chefe da Tropa "Anhangüera". Na época de estudante destacou-se como poeta e declamador.
Iniciou a carreira jornalística em 1950, aos 16 anos, no jornal Gazeta de Alegrete, o mais antigo do Rio Grande do Sul, nas funções de cronista e repórter. No mesmo período começou a atuar na Rádio ZYE9 - Rádio Alegrete, apresentando programas humorísticos e gauchescos.
Foi secretário dos Cadernos do Extremo Sul, publicações que sob a direção de HelioRicciardi, lançou diversos poetas da cidade de Alegrete.
Em 1954, mudou-se para Porto Alegre e é como poeta que é apresentado ao CTG de 35, por intermédio do poeta Lauro Rodrigues. E nunca deixou de fazer verso. Tornou-se amigo e companheiro de Waldomiro Souza, Horácio Paz, João Palma da Silva, AmandioBicca, Niterói Ribeiro, Luiz Menezes, José Hilário Retamozo, Hugo Ramirez, João da Cunha Vargas, ou seja, a fina flor da poesia gauchesca da época, que freqüentava o rodeio do CTG de 35, às quartas de noite e aos sábados de tarde. Conhece, então, e torna-se amigo de Jayme Caetano Braun, cujo ingresso no 35 CTG vai amadrinhar.
No mesmo ano, tornou-se redator do Jornal A Hora, no qual atuou durante muitos anos com a página Regionalismo e Tradição. O encontro de Antonio Augusto Fagundes, por esta época, com Glauco Saraiva foi histórico: vinham de uma briga pelos jornais, mas quando se encontraram, foi amor à primeira vista, uma amizade tão forte que nem a morte de Glauco conseguiu interromper.
Pelas páginas do jornal A Hora, lançou Jayme Caetano Braun e dois moços que estavam aparecendo com muita força: Aparício Silva Rillo e José Hilário Retamozo. O prestígio que emprestava à obra de outros poetas não fez com que descurasse de sua própria poesia. Ganhou prêmios e concursos em Vacaria, Alegrete e em Porto Alegre.
Em 1955, passou a fazer parte do Instituto de Tradições e Folclore da Divisão de Cultura do Estado. Durante oito anos fez formação em folclorismo, especializando-se em Cultura Afro-gaúcha. Tornou-se professor de danças folclóricas e literatura gauchesca no Instituto de Tradições e Folclore. Viajou para a Europa como sapateador do Grupo Gaudérios, morando em Paris por quatro meses. Iniciou pesquisas de indumentária gaúcha, tornando-se a maior autoridade sobre o assunto no Rio Grande do Sul. Foi contratado pela TV Piratini para atuar como ator.
Foi um dos fundadores do Conjunto de Folclore Internacional, batizado de Os Gaúchos, e do qual foi diretor durante 15 anos. Fundou, no Instituto de Tradições e Folclore, a Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que funcionou durante seis anos. Atuou como titular nas cadeiras de danças folclóricas e indumentária gaúcha. Foi diretor da escola durante seis anos.
No início da década de 1960, conquistou o primeiro lugar em concurso literário promovido pelo Instituto Estadual do Livro, com a obra Destino de Tal. Pouco depois passou a trabalhar na TV Tupi.
Em 1960, ingressou na Faculdade de Direito de Porto Alegre. No mesmo ano, casou-se com Marlene Nahas.

Formado em Direito, pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social, todos os seus cursos foram realizados na Universidade Federal do RGS (UFRGS).
Por todas essas suas qualificações, Antonio Augusto Fagundes passou a ser respeitado como autoridade em Folclore gaúcho, História do Rio Grande do Sul, Antropologia, Religiões afro-gaúchas, Indumentária gauchesca, Cozinha gauchesca e danças folclóricas.
Além disso, sempre deu a devida importância à dupla ligação da cultura gaúcha, com o outro Brasil e com os países do Prata. Tornou-se, assim, com o tempo e apoiado em uma biblioteca preciosa, um estudioso sério, respeitado e aclamado no Rio Grande do Sul, no Uruguai e na Argentina, conferencista bilíngüe e autor de inúmeras obras de consulta obrigatória.
Entretanto, a face menos conhecida deste intelectual brilhante, é também sua face mais antiga, a de poeta. Ganhou prêmios e distinções importantes, como a Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro, a Comenda Osvaldo Vergara, da Ordem dos Advogados do Brasil, da qual é também advogado jubilado, e a Comenda do Mérito Oswaldo Aranha (esta última, em 24-10-08, da Prefeitura de Alegrete) “A Comenda Oswaldo Aranha é outorgada pelo município de dois em dois anos, a no máximo cinco cidadãos que, através de seu trabalho artístico, cultural ou intelectual, levam o nome do Alegrete além dos seus limites geográficos”. Premiado incontáveis vezes como poeta, novelista, compositor, autor e ator de teatro, TV e cinema.
Escreveu o roteiro do filme "Para Pedro". Atuou como ator, assistente de direção e consultor de costumes do filme "Ana Terra". Escreveu o roteiro, dirigiu e trabalhou como ator no filme "Negrinho do Pastoreio", com Grande Otelo. Atuou ainda como ator no filme "O Grande Rodeio", o qual também produziu e dirigiu.
Em 1976, ingressou na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore.
Desde 1982 apresentou pela RBS TV (afiliada da TV Globo) o programa Galpão Crioulo, o que lhe rendeu três prêmios internacionais: em Buenos Aires, em Nova York e na Cidade do México.
Em 1984, passou a apresentar o mesmo programa na Rádio Gaúcha. No mesmo ano voltou a atuar no jornalismo, escrevendo no jornal Zero Hora - uma coluna semanal que mantinha até os dias atuais.
Em 1998, comandou em Paris, a apresentação do Grupo "Os Gaúchos". No mesmo ano escreveu a peça teatral “A Proclamação da República Rio-grandense".
Ao longo de sua carreira recebeu diversos prêmios, entre os quais, Prêmio Copa Festivales de España, Medalha de Bronze da Televisão Mundial pelo programa "Galpão Crioulo" e o Troféu Guri da Rádio Gaúcha. Recebeu inúmeros prêmios em poesia, canções gauchescas, declamações, danças folclóricas e teses. É autor de inumeras músicas, entre as quais, "O canto Alegretense".
"O Canto Alegretense", música em que os versos são de sua autoria, é mais cantado que o próprio Hino de Alegrete.
Publicou seu primeiro livro de versos "Com a Lua na Garupa" e depois o segundo "Ainda com a Lua na Garupa". O terceiro tem o nome de "Canto Alegretense", nome tirado da canção famosa cujos versos escreveu. Aliás, neste livro aparecem muitas letras das suas canções mais famosas dentre as 370 gravadas e regravadas por vários intérpretes e parceiros.

Foi um dos fundadores da Confraria dos Cavaleiros da Paz, atualmente Embaixadores da Tradição e do Folclore do Rio Grande do Sul. Aceitou o desafio de um conterrâneo para refazer a cavalo, caminhos antes traçados pela guerra. No dia 1 de junho de 1990, no comando da primeira grande Cavalgada, Nico ponteava e soltava o grito “- De a cavalo, indiada!”, brado que marcaria todas as cavalgadas sob seu comando.
No ano 2000, ele teve um acidente vascular cerebral (AVC), mas se recuperou. Em 2010, chegou a ficar em coma induzido após uma infecção geral no organismo. Dois anos depois, voltou à UTI pelo mesmo problema.
Da fina flor da poesia gauchesca, da época de ouro, de poesia crioula só Antonio Augusto Fagundes continuava em atividade, mantendo acesa a chama.
Nico Fagundes faleceu no dia 24 de junho de 2015, com 80 anos de idade, no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, onde esteve internado por um mês, por problemas respiratórios.

Nico Fagundes, serviu de inspiração, e no seu programa Galpão Crioulo, deu visão, notoriedade, importância para os artistas, para a música, para a dança, enfim para todas as manifestações culturais e diversificadas da nossa terra. Hoje sua partida é sentida em todas as querências, mas o sentimento de gratidão, de reverência ao legado deixado por este grande mestre é o norte que nos guiará em frente.  Nico Fagundes dedicou a vida a cultura gaúcha, e a sua obra é imortal, é nela que o próprio Nico Fagundes ficará eternizado. O tema de abertura do famoso Galpão Crioulo diz o que nós do Galpão Pátria e poesia acreditamos ser a prova da imortalidade do grande mestre:
Eu sei que não vou morrer
Porque de mim vai ficar
O mundo que eu construí
O meu rio grande o meu lar
Campeando as próprias origens
Qualquer guri vai achar.


MUITO OBRIGADO, GRANDE NICO FAGUNDES


“Um abraço, Gaúchos e Gaúchas de todas as querência”

CANTO ALEGRETENSE
(Letra de Antônio Augusto Fagundes e música de Euclides Fagundes)

Não me perguntes onde fica o Alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e de violão.
Pra quem chega de Rosário ao fim da tarde
ou quem vem de Uruguaiana de manhã,
tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no rio Ibirapuitã.

Estribilho:
Ouve o canto gauchesco e brasileiro,
Desta terra que eu amei desde guri;
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro,
Pedra moura das quebradas do Inhanduí.

E na hora derradeira que eu mereça,
Ver o sol alegretense entardecer,
Como os potros vou virar minha cabeça,
Para os pagos no momento de morrer.
E nos olhos vou levar o encantamento,
desta terra que eu amei com devoção.
Cada verso que eu componho é o pagamento,
De uma dívida de amor e gratidão.


FONTES:


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