Aureliano
de Figueiredo Pinto é, indiscutivelmente, um dos maiores poetas nativistas, de
todos os tempos.
Com seu
vigoroso regionalismo, o nosso idioma, longe de empobrecer-se, adquiriu novas e
cintilantes riquezas.
Seus poemas,
nascidos das vivências campeiras, com invernos, tropeadas, rondas, noites
longas, chimarrão, e outros temas rudes e belos. São sempre, impregnados de
comovente humanismo e iluminados pelo sol de sua fulgurante cultura.
A
divulgação de seus versos magistrais é, pois, exigência imperiosa de todos os
que cultuam as letras pampeanas e que amam nossa Querência.
A poesia
de Aureliano Figueiredo Pinto, profundamente ligada a terra, tem uma
extraordinária densidade humana, assumindo sua temática, em muitos passos, o
sentido de um canto geral que transcende o mero regionalismo.
Poucos
livros refletem com mais autenticidade o homem e a paisagem do Rio Grande do
que estes "Romances de Estância e Querência".
Aureliano
de Figueiredo Pinto nasceu em 1º de agosto de 1898, na fazenda São Domingos,
município de Tupanciretã, filho de Domingos José Pinto e de Marfisa Figueiredo
Pinto. Exerceu o ofício de médico, mas por essência foi poeta e escritor.
O
processo de alfabetização inicia-se em 1904 quando recebeu aulas de sua mãe.
Quatro anos depois no colégio Santa Maria em Santa Maria , seguiu seus estudos,
de onde enviou a sua mãe seus primeiros poemas.
Aureliano
inicia ali seu martírio, sua ressurreição e sua glória: escrever.
Aos 17
anos, nasceu uma grande amizade com Antero Marques. Antero seria, pela vida
afora companheiro, crítico e confidente a dividir aulas, pensões, ruas, e uma
infinidade de cartas. Iniciam as discussões políticas, literárias e
filosóficas, que os levariam a participar da Revolução de 30. Passou a residir
em Porto Alegre 3 anos mais tarde, onde presta o vestibular para Direito, que
trocaria mais tarde pela Medicina. Os poemas escritos em meio às anotações
escolares antecediam sua estréia com poemas publicados no jornal Correio do
Povo, com pseudônimo e nome próprio e nas revistas Kodak e A Máscara, um ano
mais tarde.
Amigos
passam a classificar seus poemas entre as correntes simbolista e parnasiana.
Entre as anotações de aula, Aureliano escreve o poema Gaudério, que marcaria
sua vinculação com o nativismo. Anos depois, Gaudério e Toada de Ronda seriam
musicados por João Fischer. Segundo testemunhas de Antero Marques, Raul Bopp,
entusiasmado com a produção do poeta diria que "Bilac assinaria estes
versos" O poema Toada de Ronda é considerado o marco inicial da poesia
nativista no Rio Grande do Sul.
Em 1924,
parte para o Rio de Janeiro estudar Medicina. Lá, cursa o primeiro e o segundo
ano e retorna a Porto Alegre. Lê PajaBrava , do Viejo Pancho, que marcará sua
produção artística, e também livros de poetas regionalistas uruguaios e
argentinos, que o influencia a escrever poemas em espanhol. Em 1926, volta aos
estudos de Medicina no Rio de Janeiro, mas no mesmo ano retorna a Porto Alegre.
Somente em 1931, conclui o curso de Medicina, e logo abre seu consultório em
Santiago. Abre o coração aos campos e aos tipos humanos que o povoam.
A partir
dali o trabalho de médico rouba-lhe o tempo de leitura e criação. Passa a fazer
viagens ao interior do município, atendendo a chamados médicos e fica com os
peões tomando mate e ouvindo causos.
Três
anos mais tarde por falta de dinheiro dos clientes para compra de remédio, suas
práticas médicas são interrompidas. Aureliano cria um código que é colocado nas
receitas, para que fossem debitadas para alguns de seus amigos. Nessa época,
seus poemas são datilografados por Túlio Piva, para quem produz textos para
serem lidos na rádio local.
Em 1937,
já com quase 40 anos, passa a dirigir o Posto de Higiene de Santiago. Anos mais
tarde, seria o fundador do Hospital de Caridade.
Casa com
Zilah Lopes, em 29 de dezembro de 1938 com que tem 3 filhos.
Em 1941,
troca Santiago por Porto Alegre, assume a subchefia da Casa Civil do
interventor Cordeiro de Farias. Fica poucos meses no cargo e retorna a
Santiago.
Em 1956
inicia a reunir e selecionar seus poemas, espalhados entre amigos, para
publicá-los em livros.
Em 1959
é publicado seu único livro em vida: “Romances de Estância e Querência – Marcas
do Tempo”, pela Editora Globo. O filho José Antônio espera até que os primeiros
exemplares estejam concluídos. Leva alguns exemplares a Santiago. O poeta está
com câncer. Consegue apenas ditar à filha Laura Maria as dedicatórias e
assiná-las. Falece no dia 22 de fevereiro daquele ano.
Embora
Homem culto, leitor dos clássicos nacionais e estrangeiros, mistura os
linguajares culto e popular com maestria.
A
experiência de médico dedicado ao atendimento das camadas mais humildes da
população foi fundamental para sua obra literária. As longas entrevistas
mantidas com homens e mulheres pobres das fazendas e bairros de Santiago,
somadas à vivência desde a infância com as atividades rurais, contribuíram para
que o escritor dominasse a linguagem e a cultura dos gaúchos a pé e a cavalo.
Sabe-se
que Aureliano tinha uma séria restrição quanto à publicação de seus escritos e,
quando concordava em publicar, fazia-o através de pseudônimos. Porém, além de
poeta, como era conhecido e como não gostava de ser chamado, o escritor atuava
como médico, exercendo um papel de suma importância para a comunidade em que
vivia. Era conhecido mais pelos serviços que prestava (e isto inclui consultas
gratuitas e arrecadação de fundos entre amigos para aquisição de remédios para
aqueles que não tinham condições de comprar) do que por seus escritos. Talvez
tenha encontrado aí a satisfação pessoal. Talvez escrever, para ele,
representasse uma satisfação muito mais íntima que não precisava estar em
evidência. Helena Tornquist, ressalta a participação do poeta na vida cultural
de Porto Alegre, onde viveu a partir de 1916, podendo vivenciar de perto as
transformações político/sociais que geraram instabilidade.
É no
romance “Memórias do Coronel Falcão” que esse livre trânsito entre os falares
de homens estudados e não escolarizados é mais notável.
A grande
influência é Euclides da Cunha, como se pode verificar mediante uma leitura
atenda e meditada do romance. Como o autor de “Os Sertões”, mistura palavras
eruditas, plebeísmos, arcaísmos e expressões científicas. Neste caso, através
de explicações sobre fenômenos. Seguramente, beneficiou-se das críticas feitas
aos aspectos formais da “Bíblia da Nacionalidade”.
Típico
representante de uma geração que recuperou a obra de Simões Lopes Neto, a
presença do autor dos “Contos Gauchescos” é outra constante em sua obra, como
lembram os críticos. Ele mesmo foi um grande divulgador da obra literária do
escritor pelotense.
Em 1963,
é publicado "Ad Sodalibus" pela Livraria Sulina, seu segundo livro de
poesias Romances de Estância e Querência – Armorial de Estância e Outros
Poemas. Em 1974, é publicada pela Editora Movimento, a novela Memórias do
Coronel Falcão. Em 1975, Noel Guarany recebe autorização dos familiares do
poeta para musicar Bisneto de Farroupilha e Canto do Guri Campeiro.
A
gauchesca, o nativismo, a canção de protesto, o lirismo de recorte clássico,
que fazem lembrar “o gauchismo cósmico” de um Fernán Silva Valdés ou de um
Pedro Leandro Ipuche, estão presentes na obra poética de Aureliano de
Figueiredo Pinto. Poeta culto, usa a profissão de médico para apropriar-se da
alma gaúcha, resumindo a evolução estética da poesia popular de raízes
regionalistas, a gauchesca. E isso o transforma no mais representativo poeta
gauchesco, nativista ou de “outras tendências afins” de língua portuguesa de
todos os tempos.
Aureliano
de Figueiredo Pinto jamais teve a preocupação de dar ampla publicidade a sua
obra. A política, seja partidária ou literária, eram-lhe quase que
indiferentes. Possuía uma acurada consciência da durabilidade de sua obra, como
vemos neste trecho, dele mesmo, com que a autora Helena Tornquist encerra a
biografia que dedicou ao escritor: “A nossa vida, na renúncia de sua modéstia
tem algo a dizer à mocidade de amanhã, porque foi vivida à nossa maneira, ao
jeito do fio d’água que corre à margem da barulhenta cascata que é a
opinião-do-Senhor-todo-Mundo”.
A obra
de Aureliano é considerada um clássico da nossa literatura, porque ultrapassou
seu tempo, persistindo de alguma maneira na memória coletiva e sendo atualizada
por sucessivas leituras, no transcurso da história.
A obra
de Aureliano apresenta paixões humanas de maneira intensa, original e múltipla.
Sua obra
registra e simultaneamente inventa a complexidade de seu tempo.
A obra
de Aureliano possui reconhecido valor histórico, mesmo não alcançando a
universalidade inconteste.
Um dos maiores
poetas da Língua Portuguesa, Aureliano de Figueredo Pinto não gostava de ser
chamado de poeta, sua obra praticamente só foi conhecida e divulgada após a sua
morte, não escrevia para a apreciação dos outros, a poesia era um campo
privado, particular onde suas angústias, inquietações, e emoções eram
registradas em papel. Nos dias atuais onde a busca pela fama ultrapassa a
barreira do ridículo, e muitos se auto intitulam poetas, apenas por fazerem
linhas com rimas, fazer esta homenagem soa como obrigatória para quem busca
conhecer a verdadeira poesia. O inusitado é que se estivesse vivo Aureliano não
veria com bons olhos tamanha exposição.
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