“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

sábado, 27 de junho de 2015

AURELIANO DE FIGUEIREDO PINTO

Aureliano de Figueiredo Pinto é, indiscutivelmente, um dos maiores poetas nativistas, de todos os tempos.
Com seu vigoroso regionalismo, o nosso idioma, longe de empobrecer-se, adquiriu novas e cintilantes riquezas.
Seus poemas, nascidos das vivências campeiras, com invernos, tropeadas, rondas, noites longas, chimarrão, e outros temas rudes e belos. São sempre, impregnados de comovente humanismo e iluminados pelo sol de sua fulgurante cultura.
A divulgação de seus versos magistrais é, pois, exigência imperiosa de todos os que cultuam as letras pampeanas e que amam nossa Querência.
A poesia de Aureliano Figueiredo Pinto, profundamente ligada a terra, tem uma extraordinária densidade humana, assumindo sua temática, em muitos passos, o sentido de um canto geral que transcende o mero regionalismo.
Poucos livros refletem com mais autenticidade o homem e a paisagem do Rio Grande do que estes "Romances de Estância e Querência".
Aureliano de Figueiredo Pinto nasceu em 1º de agosto de 1898, na fazenda São Domingos, município de Tupanciretã, filho de Domingos José Pinto e de Marfisa Figueiredo Pinto. Exerceu o ofício de médico, mas por essência foi poeta e escritor.
O processo de alfabetização inicia-se em 1904 quando recebeu aulas de sua mãe. Quatro anos depois no colégio Santa Maria em Santa Maria , seguiu seus estudos, de onde enviou a sua mãe seus primeiros poemas.
Aureliano inicia ali seu martírio, sua ressurreição e sua glória: escrever.
Aos 17 anos, nasceu uma grande amizade com Antero Marques. Antero seria, pela vida afora companheiro, crítico e confidente a dividir aulas, pensões, ruas, e uma infinidade de cartas. Iniciam as discussões políticas, literárias e filosóficas, que os levariam a participar da Revolução de 30. Passou a residir em Porto Alegre 3 anos mais tarde, onde presta o vestibular para Direito, que trocaria mais tarde pela Medicina. Os poemas escritos em meio às anotações escolares antecediam sua estréia com poemas publicados no jornal Correio do Povo, com pseudônimo e nome próprio e nas revistas Kodak e A Máscara, um ano mais tarde.

Amigos passam a classificar seus poemas entre as correntes simbolista e parnasiana. Entre as anotações de aula, Aureliano escreve o poema Gaudério, que marcaria sua vinculação com o nativismo. Anos depois, Gaudério e Toada de Ronda seriam musicados por João Fischer. Segundo testemunhas de Antero Marques, Raul Bopp, entusiasmado com a produção do poeta diria que "Bilac assinaria estes versos" O poema Toada de Ronda é considerado o marco inicial da poesia nativista no Rio Grande do Sul.
Em 1924, parte para o Rio de Janeiro estudar Medicina. Lá, cursa o primeiro e o segundo ano e retorna a Porto Alegre. Lê PajaBrava , do Viejo Pancho, que marcará sua produção artística, e também livros de poetas regionalistas uruguaios e argentinos, que o influencia a escrever poemas em espanhol. Em 1926, volta aos estudos de Medicina no Rio de Janeiro, mas no mesmo ano retorna a Porto Alegre. Somente em 1931, conclui o curso de Medicina, e logo abre seu consultório em Santiago. Abre o coração aos campos e aos tipos humanos que o povoam.
A partir dali o trabalho de médico rouba-lhe o tempo de leitura e criação. Passa a fazer viagens ao interior do município, atendendo a chamados médicos e fica com os peões tomando mate e ouvindo causos.
Três anos mais tarde por falta de dinheiro dos clientes para compra de remédio, suas práticas médicas são interrompidas. Aureliano cria um código que é colocado nas receitas, para que fossem debitadas para alguns de seus amigos. Nessa época, seus poemas são datilografados por Túlio Piva, para quem produz textos para serem lidos na rádio local.

Em 1937, já com quase 40 anos, passa a dirigir o Posto de Higiene de Santiago. Anos mais tarde, seria o fundador do Hospital de Caridade.
Casa com Zilah Lopes, em 29 de dezembro de 1938 com que tem 3 filhos.
Em 1941, troca Santiago por Porto Alegre, assume a subchefia da Casa Civil do interventor Cordeiro de Farias. Fica poucos meses no cargo e retorna a Santiago.
Em 1956 inicia a reunir e selecionar seus poemas, espalhados entre amigos, para publicá-los em livros.
Em 1959 é publicado seu único livro em vida: “Romances de Estância e Querência – Marcas do Tempo”, pela Editora Globo. O filho José Antônio espera até que os primeiros exemplares estejam concluídos. Leva alguns exemplares a Santiago. O poeta está com câncer. Consegue apenas ditar à filha Laura Maria as dedicatórias e assiná-las. Falece no dia 22 de fevereiro daquele ano.
Embora Homem culto, leitor dos clássicos nacionais e estrangeiros, mistura os linguajares culto e popular com maestria.

A experiência de médico dedicado ao atendimento das camadas mais humildes da população foi fundamental para sua obra literária. As longas entrevistas mantidas com homens e mulheres pobres das fazendas e bairros de Santiago, somadas à vivência desde a infância com as atividades rurais, contribuíram para que o escritor dominasse a linguagem e a cultura dos gaúchos a pé e a cavalo.
Sabe-se que Aureliano tinha uma séria restrição quanto à publicação de seus escritos e, quando concordava em publicar, fazia-o através de pseudônimos. Porém, além de poeta, como era conhecido e como não gostava de ser chamado, o escritor atuava como médico, exercendo um papel de suma importância para a comunidade em que vivia. Era conhecido mais pelos serviços que prestava (e isto inclui consultas gratuitas e arrecadação de fundos entre amigos para aquisição de remédios para aqueles que não tinham condições de comprar) do que por seus escritos. Talvez tenha encontrado aí a satisfação pessoal. Talvez escrever, para ele, representasse uma satisfação muito mais íntima que não precisava estar em evidência. Helena Tornquist, ressalta a participação do poeta na vida cultural de Porto Alegre, onde viveu a partir de 1916, podendo vivenciar de perto as transformações político/sociais que geraram instabilidade.
É no romance “Memórias do Coronel Falcão” que esse livre trânsito entre os falares de homens estudados e não escolarizados é mais notável.

A grande influência é Euclides da Cunha, como se pode verificar mediante uma leitura atenda e meditada do romance. Como o autor de “Os Sertões”, mistura palavras eruditas, plebeísmos, arcaísmos e expressões científicas. Neste caso, através de explicações sobre fenômenos. Seguramente, beneficiou-se das críticas feitas aos aspectos formais da “Bíblia da Nacionalidade”.
Típico representante de uma geração que recuperou a obra de Simões Lopes Neto, a presença do autor dos “Contos Gauchescos” é outra constante em sua obra, como lembram os críticos. Ele mesmo foi um grande divulgador da obra literária do escritor pelotense.

Em 1963, é publicado "Ad Sodalibus" pela Livraria Sulina, seu segundo livro de poesias Romances de Estância e Querência – Armorial de Estância e Outros Poemas. Em 1974, é publicada pela Editora Movimento, a novela Memórias do Coronel Falcão. Em 1975, Noel Guarany recebe autorização dos familiares do poeta para musicar Bisneto de Farroupilha e Canto do Guri Campeiro.
A gauchesca, o nativismo, a canção de protesto, o lirismo de recorte clássico, que fazem lembrar “o gauchismo cósmico” de um Fernán Silva Valdés ou de um Pedro Leandro Ipuche, estão presentes na obra poética de Aureliano de Figueiredo Pinto. Poeta culto, usa a profissão de médico para apropriar-se da alma gaúcha, resumindo a evolução estética da poesia popular de raízes regionalistas, a gauchesca. E isso o transforma no mais representativo poeta gauchesco, nativista ou de “outras tendências afins” de língua portuguesa de todos os tempos.
Aureliano de Figueiredo Pinto jamais teve a preocupação de dar ampla publicidade a sua obra. A política, seja partidária ou literária, eram-lhe quase que indiferentes. Possuía uma acurada consciência da durabilidade de sua obra, como vemos neste trecho, dele mesmo, com que a autora Helena Tornquist encerra a biografia que dedicou ao escritor: “A nossa vida, na renúncia de sua modéstia tem algo a dizer à mocidade de amanhã, porque foi vivida à nossa maneira, ao jeito do fio d’água que corre à margem da barulhenta cascata que é a opinião-do-Senhor-todo-Mundo”.
A obra de Aureliano é considerada um clássico da nossa literatura, porque ultrapassou seu tempo, persistindo de alguma maneira na memória coletiva e sendo atualizada por sucessivas leituras, no transcurso da história.
A obra de Aureliano apresenta paixões humanas de maneira intensa, original e múltipla.

Sua obra registra e simultaneamente inventa a complexidade de seu tempo.
A obra de Aureliano possui reconhecido valor histórico, mesmo não alcançando a universalidade inconteste.
Um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, Aureliano de Figueredo Pinto não gostava de ser chamado de poeta, sua obra praticamente só foi conhecida e divulgada após a sua morte, não escrevia para a apreciação dos outros, a poesia era um campo privado, particular onde suas angústias, inquietações, e emoções eram registradas em papel. Nos dias atuais onde a busca pela fama ultrapassa a barreira do ridículo, e muitos se auto intitulam poetas, apenas por fazerem linhas com rimas, fazer esta homenagem soa como obrigatória para quem busca conhecer a verdadeira poesia. O inusitado é que se estivesse vivo Aureliano não veria com bons olhos tamanha exposição.

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