“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

sábado, 11 de abril de 2015

OS ANGUERAS - MANANCIAL DE CULTURA GAÚCHA



OS ANGUERAS
Tudo começou em 1961, quando José Léwis Bicca chegou em São Borja vindo de Cachoeira do Sul, e que por incrível que pareça, não tinha nenhum vínculo com a cultura gaúcha. Em Cachoeira, Bicca era jogador de basquete, e ao chegar em São Borja fundou o “Clube dos Dez”, um grupo de amigos, entre eles Aparício da Silva Rillo, dispostos a praticar e divulgar o esporte pouco difundido. Compraram bolas, construíram tabelas e começaram a treinar. O 2º Regimento de Cavalaria João Manuel também tinha um time de basquete, e assim começaram a realizar jogos entre si. Na década de 60, durante a ditadura militar, os militares obviamente não admitiam perder para os civis, e a rivalidade entre eles crescia. Por algum tempo disputaram partidas, e tendo em vista a pouca adesão dos moradores de São Borja ao esporte, o time terminou, e outra vontade floresceu entre eles: o gosto pela música.
José Lewis Bicca
Numa época em que “Os Beatles” reinavam no mundo inteiro, esses jovens, contrários a cantarem em inglês, a repetir Teixeirinha ou a bossa nova carioca, decidiram fazer sua própria música, cantar seu cotidiano, sua terra e seus costumes.
A data de Fundação do grupo Os Angüeras é 10 de Março de 1962, com atuação permanente nos campos da música, do teatro, da literatura regional e da pesquisa de folclore, Os Angüreas - Grupo Amador de Arte, surgiu a partir do Departamento Cultural do chamado "Clube dos Dez". Sua primeira Formação era composta por José Lewis Bicca, Telmo de Lima Freitas, Apparício Silva Rillo, Sadi Santiago (Capincho), Darvey Orenga, Vicente Goulart e Carlos Moreno (Pimpim).
Aparício Silva Rillo
O nome “Angüera” foi idealizado por Rillo e significa “espírito que volta” ou “alma que se devolve ao corpo”.Um pouco estranho à primeira vista, mas, logo, compreensível, pois o "Angüera" guarany antes triste e caladão, virou cantador e tocador de viola, depois que os padres das Missões o batizaram e lhe deram o nome de Generoso e, assim, na mitologia missioneira "Angüera" pode ser considerado o patrono da música e da alegria gaúcha.
Com a poesia de Rillo por esteio, surgiu a primeira composição do grupo “Os Angüeras”, intitulada "Valsinha de Trazontonte" - Letra de Apparício Silva Rillo e Música de José Lewis Bicca.  
Conta-se que ao receber a letra, disse Bicca:
- Mas eu nunca fiz música.
 E Rillo respondeu:
- Não fez, mas vai fazer.
Os Angueras tem sua sede localizada na beira do rio Uruguai, em São Borja, e se destacaram também, pela organização do festival de canções regionalistas, Intitulado "Festival da Barranca", onde os participantes são selecionados por convite , mulheres não participam, por falta de infraestrutura, já que o festival é literalmente na Barranca do Rio, onde o acampamento é precário e formado por barracas, e que reúne grandes nomes do nativismo gaúcho ocorrendo sempre na semana santa.
Telmo Motta jr; Aparicio Silva Rillo; José Bicca, Miguel bicca e Pedro julião
No grupo Os Angueras, Rillo era quem fazia as letras e Bicca era o compositor das músicas. Em 1975, "Cantos de Pampa e Rio" foi lançado. Só 20 anos depois, em 1995, veio o segundo trabalho gravado, "Sinhá Querência", e o grupo Os Angueras era formado por José Lewis Bicca (direção, vocal e violão), Pedro Ayub Julião (solista e vocais), Paulo Roberto Lima (arranjos, sopros, teclado e vocal), Sérgio Wagner de Souza (violão e vocal) e Derly Azambuja Meneghetti (violão, sopros e vocal).
O Grupo Os Angueras encenou peças teatrais, realizou bailes e jantares, participou de inúmeros festivais nativistas, e dentre eles, como registro histórico, destacamos a participação no mais antigo festival de música nativista do Rio Grande do Sul - Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana – onde subiram ao palco para apresentar a primeira música do Festival, intitulada Andarengo. Assim, antes mesmo do surgimento dos festivais o grupo já cantava e cultuava as coisas do Rio Grande. Fazendo a construção de um belo repertório próprio, principalmente com letras de Aparício Silva Rillo e músicas de José Lewis Bicca.
Olha o dourado, que bateu no espinhel”! Assim gritou um balseiro que pescava na popa de uma velha balsa no Rio Uruguai em São Borja, esta simples frase, deu origem a uma das músicas gaúchas mais conhecidas de todos os tempos - “Traz a canoa que rio fundo não dá pé”. Completou Rillo que escreveu Cantiga de Rio e Remo e que Zé Bicca musicou.
No Rio Grande do Sul, poucas instituições conseguem sintetizar tão bem o resgate da cultura gaúcha como faz, em São Borja, o Grupo Amador de Arte Os Angüeras. O grupo foi se renovando, mas os propósitos sempre continuaram os mesmos da sua origem, há mais de meio século.
Os Angüeras - Grupo Amador de Arte, fundou, em 09 de outubro de 1982 (ano em que São Borja completou o tricentenário de fundação histórica), o "Museu da Estância". O museu é especializado na herança material advinda das estâncias e fazendas da região das Missões e da Fronteira do RS.).
        O Chamado Museu da Estância, é ou pretende ser um repositório dos móveis, utensílios, veículos e trastes em geral que amparam o curso temporal das Estâncias ou Fazendas no Rio Grande do Sul, reunindo sob seu teto todos aqueles elementos da cultura material gauchesca que, direta ou indiretamente, ajudaram o homem da região das Missões e da Fronteira, a consolidar, a sociedade pastoril - modernamente transformada em agropastoril.
Os Angueras e no detalhe Mano Lima
Apesar do número limitado de integrantes, a marca Os Angüeras, é conhecida em todo o país. São centenas de apresentações em todas as principais capitais brasileiras, apresentações por todo o Rio Grande do Sul, além de apresentações e palestras em várias universidades e festivais. Em São Borja, a trajetória de Os Angüeras confunde-se com a própria história da cidade, pela contribuição cultural oferecida. São de Rillo e José Bicca a letra e a música do Hino de São Borja.
Uma das preocupações do grupo é renovar preservando origens. 'O costume se conserva/E embora se troque a erva, não se perdem ideais', Escreveu Rodrigo Bauer na composição 'O Mate de Quem se Vai', que prestou uma homenagem para Silva Rillo, após sua morte, e que foi vencedora do Festival da Barranca no ano de 1996.
O grupo hoje, é formado pelos músicos Vantuir Cáceres, Jorge Dorneles, Marcelo Antunes e Silvanir Robalo.
Telmo de Lima Freitas
O grupo Os Angueras, não é apenas mais um bom grupo musical, como tantos outros existentes no Rio Grande do sul, Os Angueras é uma marca que pode ser utilizada como sinônimo de Cultura, nas suas mais variadas facetas. São atuantes em vários campos culturais, como por exemplo: música, dança, museu, assistência Social, folclore e ensino, só para citar algumas delas. De suas várias formações ao longo dos anos, surgiram artistas consagrados como por exemplo Mano Lima, Miguel Bicca, Telmo de Lima Freitas, e Lendas da nossa cultura como é o caso de Aparício Silva Rillo. Os Angueras fazem parte da vida de avós, pais e filhos... ultrapassam gerações difundindo e defendendo a cultura do Rio Grande, mudaram os nomes não o rumo. Que bom termos exemplos da qualidade, da importância e da grandeza do Grupo Amador de Arte – Os Angueras.

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