Tudo começou em 1961, quando José Léwis Bicca
chegou em São Borja vindo de Cachoeira do Sul, e que por incrível que pareça,
não tinha nenhum vínculo com a cultura gaúcha. Em Cachoeira, Bicca era jogador
de basquete, e ao chegar em São Borja fundou o “Clube dos Dez”, um grupo de
amigos, entre eles Aparício da Silva Rillo, dispostos a praticar e divulgar o
esporte pouco difundido. Compraram bolas, construíram tabelas e começaram a
treinar. O 2º Regimento de Cavalaria João Manuel também tinha um time de
basquete, e assim começaram a realizar jogos entre si. Na década de 60, durante
a ditadura militar, os militares obviamente não admitiam perder para os civis,
e a rivalidade entre eles crescia. Por algum tempo disputaram partidas, e tendo
em vista a pouca adesão dos moradores de São Borja ao esporte, o time terminou,
e outra vontade floresceu entre eles: o gosto pela música.
José Lewis Bicca |
Numa época em que “Os Beatles” reinavam no mundo inteiro,
esses jovens, contrários a cantarem em inglês, a repetir Teixeirinha ou a bossa
nova carioca, decidiram fazer sua própria música, cantar seu cotidiano, sua
terra e seus costumes.
A data de Fundação do grupo Os Angüeras é 10 de
Março de 1962, com atuação permanente nos campos da música, do teatro, da
literatura regional e da pesquisa de folclore, Os Angüreas - Grupo Amador de
Arte, surgiu a partir do Departamento Cultural do chamado "Clube dos
Dez". Sua primeira Formação era composta por José Lewis Bicca, Telmo de
Lima Freitas, Apparício Silva Rillo, Sadi Santiago (Capincho), Darvey Orenga,
Vicente Goulart e Carlos Moreno (Pimpim).
Aparício Silva Rillo |
O nome “Angüera” foi idealizado por Rillo e
significa “espírito que volta” ou “alma que se devolve ao corpo”.Um pouco estranho
à primeira vista, mas, logo, compreensível, pois o "Angüera" guarany
antes triste e caladão, virou cantador e tocador de viola, depois que os padres
das Missões o batizaram e lhe deram o nome de Generoso e, assim, na mitologia
missioneira "Angüera" pode ser considerado o patrono da música e da
alegria gaúcha.
Com a poesia de Rillo por esteio, surgiu a primeira
composição do grupo “Os Angüeras”, intitulada "Valsinha de
Trazontonte" - Letra de Apparício Silva Rillo e Música de José Lewis
Bicca.
Conta-se que ao receber a letra, disse Bicca:
- Mas eu nunca fiz música.
E Rillo
respondeu:
- Não fez, mas vai fazer.
Os Angueras tem sua sede localizada na beira do rio
Uruguai, em São Borja, e se destacaram também, pela organização do festival de
canções regionalistas, Intitulado "Festival da Barranca", onde os
participantes são selecionados por convite , mulheres não participam, por falta
de infraestrutura, já que o festival é literalmente na Barranca do Rio, onde o
acampamento é precário e formado por barracas, e que reúne grandes nomes do
nativismo gaúcho ocorrendo sempre na semana santa.
Telmo Motta jr; Aparicio Silva Rillo; José Bicca, Miguel bicca e Pedro julião |
No grupo Os Angueras, Rillo era quem fazia as
letras e Bicca era o compositor das músicas. Em 1975, "Cantos de Pampa e
Rio" foi lançado. Só 20 anos depois, em 1995, veio o segundo trabalho
gravado, "Sinhá Querência", e o grupo Os Angueras era formado por
José Lewis Bicca (direção, vocal e violão), Pedro Ayub Julião (solista e vocais),
Paulo Roberto Lima (arranjos, sopros, teclado e vocal), Sérgio Wagner de Souza
(violão e vocal) e Derly Azambuja Meneghetti (violão, sopros e vocal).
O Grupo Os Angueras encenou peças teatrais,
realizou bailes e jantares, participou de inúmeros festivais nativistas, e dentre
eles, como registro histórico, destacamos a participação no mais antigo
festival de música nativista do Rio Grande do Sul - Califórnia da Canção Nativa
de Uruguaiana – onde subiram ao palco para apresentar a primeira música do Festival,
intitulada Andarengo. Assim, antes mesmo do surgimento dos festivais o grupo já
cantava e cultuava as coisas do Rio Grande. Fazendo a construção de um belo repertório
próprio, principalmente com letras de Aparício Silva Rillo e músicas de José
Lewis Bicca.
Olha o dourado, que bateu no espinhel”! Assim
gritou um balseiro que pescava na popa de uma velha balsa no Rio Uruguai em São
Borja, esta simples frase, deu origem a uma das músicas gaúchas mais conhecidas
de todos os tempos - “Traz a canoa que rio fundo não dá pé”. Completou Rillo
que escreveu Cantiga de Rio e Remo e que Zé Bicca musicou.
No Rio Grande do Sul, poucas instituições conseguem
sintetizar tão bem o resgate da cultura gaúcha como faz, em São Borja, o Grupo
Amador de Arte Os Angüeras. O grupo foi se renovando, mas os propósitos sempre
continuaram os mesmos da sua origem, há mais de meio século.
Os Angüeras - Grupo Amador de Arte, fundou, em 09
de outubro de 1982 (ano em que São Borja completou o tricentenário de fundação
histórica), o "Museu da Estância". O museu é especializado na herança
material advinda das estâncias e fazendas da região das Missões e da Fronteira
do RS.).
O
Chamado Museu da Estância, é ou pretende ser um repositório dos móveis,
utensílios, veículos e trastes em geral que amparam o curso temporal das
Estâncias ou Fazendas no Rio Grande do Sul, reunindo sob seu teto todos aqueles
elementos da cultura material gauchesca que, direta ou indiretamente, ajudaram
o homem da região das Missões e da Fronteira, a consolidar, a sociedade pastoril
- modernamente transformada em agropastoril.
Os Angueras e no detalhe Mano Lima |
Apesar do número limitado de integrantes, a marca
Os Angüeras, é conhecida em todo o país. São centenas de apresentações em todas
as principais capitais brasileiras, apresentações por todo o Rio Grande do Sul,
além de apresentações e palestras em várias universidades e festivais. Em São Borja,
a trajetória de Os Angüeras confunde-se com a própria história da cidade, pela
contribuição cultural oferecida. São de Rillo e José
Bicca a letra e a música do Hino de São Borja.
Uma das preocupações do grupo é renovar preservando
origens. 'O costume se conserva/E embora se troque a erva, não se perdem
ideais', Escreveu Rodrigo Bauer na composição 'O Mate de Quem se Vai', que
prestou uma homenagem para Silva Rillo, após sua morte, e que foi vencedora do
Festival da Barranca no ano de 1996.
O grupo hoje, é formado pelos músicos Vantuir
Cáceres, Jorge Dorneles, Marcelo Antunes e Silvanir Robalo.
Telmo de Lima Freitas |
O grupo Os Angueras, não é apenas mais um bom grupo
musical, como tantos outros existentes no Rio Grande do sul, Os Angueras é uma
marca que pode ser utilizada como sinônimo de Cultura, nas suas mais variadas
facetas. São atuantes em vários campos culturais, como por exemplo: música,
dança, museu, assistência Social, folclore e ensino, só para citar algumas
delas. De suas várias formações ao longo dos anos, surgiram artistas
consagrados como por exemplo Mano Lima, Miguel Bicca, Telmo de Lima Freitas, e
Lendas da nossa cultura como é o caso de Aparício Silva Rillo. Os Angueras
fazem parte da vida de avós, pais e filhos... ultrapassam gerações difundindo e
defendendo a cultura do Rio Grande, mudaram os nomes não o rumo. Que bom termos
exemplos da qualidade, da importância e da grandeza do Grupo Amador de Arte –
Os Angueras.
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