“Galpão, Pátria e Poesia. Três palavras consagradas, no final da madrugada se encontram pra clarear o dia, vão regendo a sinfonia de poetas e cantores, para que os madrugadores esperem o sol estribados, para alegrar nosso pago, com versos e melodias”

sábado, 22 de agosto de 2015

SADI MACHADO

SADI SILVEIRA MACHADO, conhecido popularmente como SADI MACHADO, Radialista, Poeta e Payador. Nasceu na localidade de Engenho Velho, 4º Distrito de São Francisco de Assis, na beira do Rio Jaguari Mirin, local onde só se escutava o ronco do bugiu, (símbolo da cidade), e ainda segundo Sadi, “o sol, só ao meio dia, por conta da geografia da localidade”. Nesse local viveu até seus nove anos de idade. Depois mudou-se para o Rincão dos Luzes, localidade também pertencente a cidade de São Chico.
Sadi teve dez irmãos, dos quais quatro meninas e seis meninos. Filho de Pedro Monteiro Machado, de quem herdou o dom da trova e da payada. Pataquero, o Velho Pedro gostava da farra, do trago, e nessa harmonia o verso aflorava.
Aprendeu a fazer conta riscando nas cinza do borralho, ao mesmo tempo em que se pai lhe ensinava os versinhos de quatro linhas.
Frequentou o colégio da Tia Chica até o terceiro ano do primário, aprendendo apenas segundo ele “os biete” e as quatro operações matemáticas. Leitura male male, mas o tempo se encarregou do resto.
A professora Chica, lhe marcou muito, inclusive escreveu uma música em sua homenagem.
“Professora Chica sua mãos de fada, que esbanja ternura passando dever, mostra com ternura a lossa desbotada, e as primeiras letras ensinado a ler”.
Nas festas de igrejas do interior, já ficando moçito, usando lenço, bota e bombacha Sadi, sempre tava pela copa animando, lugar propício para os apreciadores de um bom vinho crioulo e da trova. Foi aí que segundo ele incentivavam para que trovasem de improviso. “Agora tu vai ver – diziam – vou buscar o guri do compadre Pedro”, com esse pedido e mais uma "gazoza", Sadi se entreverava e a cada verso a platéia se animava e fortalecia o iniciante trovador. Os versos eram quebrado, mas o público valorizava, aplaudia e vaiava os adversários o que o deixava “loco de faceiro”.
Mais tarde especializando-se aprendeu como era a rima, como era compor os versos e os desafios.

O treinamento foi peculiar, não teria outra forma mais original de aprendizado a não ser no dia-a-dia, e inclusive com os bois de canga que carreteava e lavrava as lavoura da família, - fazia de conta que um boi trovava para o outro e o que perdia chamava de podre de tudo que vinha na mente, tudo para praticar e desenvolver esse dom, que muitas vezes era surpreendido por pessoas que passavam por perto e gritavam “tu ta louco Machado véio”.
Sadi Machado foi forjado na lida, no linguajar que seu pai usava, a linguagem de campanha, aquela bem gaúcha.
O Sadi artista segundo ele se dá muito mais pelo seu jeito despojado, engraçado, extrovertido e popular.
A primeira composição gravada de autoria do Sadi Machado foi“Remendos de Saudade” ou “nanica carijó” ou ainda “cadela preta”, Sadi lembra que foi seu amigo Barbela, - um dos idealizadores do Festival da Música Crioula de Santiago - que sempre esteve pronto a lhe ajudar na divulgação de suas obras no festival.
O Sadi no rádio iniciou por volta do fim da década de 70, de tanta vontade que tinha de declamar suas poesias e dizer que essas eram “de sua marca”, expressão que sempre ouvia outros payadores estufarem o peito antes das declamações. Lembra também que nesse momento Ataliba de Lima Lopes, o “Nego Ataliba” como carinhosamente o chama, já estava no caminho dos grandes payadores, recitando nada menos que “Testamento” de “Jaime de Medeiros Pinto”. E isso segundo Sadi lhe deu mais vontade ainda – e um pouco de ciúme - de realizar seu sonho de falar suas poesias em um microfone de Rádio.
Sadi não escrevia, tinha tudo guardado na mente, suas poesias estava adormecidas, porém um certo dia levou sua composição “Vida de bulicheiro”, - que retrata a sua vida pois, já era um comerciante na cidade de Santiago – até a Rádio Santiago e mostrou a letra para Milton Carlos Mesquita e Valter Leiria, que apresentavam na Rádio Santiago das 9 às 10 hs, o Programa “Camperiando”. Depois de algumas recomendações, Sadi realizou se sonho deixando os locutores impressionados com a qualidade da composição. Passado alguns dias o publico solicitava a cópia da poesia e ainda que o moço voltasse a declamar no Programa, uma nova oportunidade para Sadi.
Severo & Nilda, tinham programa “festa na querência nas tardes da Rádio Santiago, e apartir de então passou também a declamar e trovar em um circo, que se apresentava na cidade e arredores, Unistalda e Itacurubi. E daí então iniciando a carreira de payador.
Lembrou sadi que em uma oportunidade Moraizinho se apresentou no circo, e fez um desafio, ficaria para outro dia se tivesse um trovador, Sadi levantou no meio da platéia, arremangou seu pala e aceitou o desafio. Na noite seguinte o desafiu se concretizou.
Francisco Vargas, grande músico gaúcho, frequentava o bolicho do Sadi seguidamente, pra comer murcilha, torresmo e um bom vinho crioulo. Local onde cantavam muito, juntamente com Baitaca entre outros grandes artistas.
Sobre os festivais Nativistas, Sadi lamenta que muito do amor pelo pago, do apego pelos preceitos gaúchos e aquela paixão de cantar as coisas do rincão tenham quase que desaparecido, disse que “vinte anos a trás se escrevia a composição, hoje se produz as composições”, as composições marcantes, que a letra traduzia o campeiro, o domador, o guasca, desapareceu e o dinheiro trouxe a modernidade.
Em 1983, participou da Tertúlia Nativista de santa Maria, como letrista, apresentando a letra “Quitandeira” com nada menos que Miguel Marques e Eurides Nunes, que estiveram em seu bolicho e criaram a melodia na hora.
Juliano Lopes, lembrou que Sadi marcou sua infância junto com seu pai Ataliba em festivais que disputavam sendo muitas vezes adversários mas, que terminado o evento a amizade prevalecia.
Sadi é sábio, possui o dom da rima, coisa rara hoje, ele canta pelo amor, pelo apego aos costumes, lamenta que o apego popular antigamente visto nos festivais tenha se perdido na burocracia e nos orçamentos elevados que se necessita para que seja viável a realização dos festivais. Hoje não e mais pelo amor aos costumes gaúchos.
O rádio é para Sadi um atrativo a parte, lembra ele que na sua infância tomavam banho e ficavam na expectativa do pai ligar o rádio para ouvir um determinado programa. Era uma hora sagrada e qualquer barulho que fizessem o pai colocava para fora da sala. A música Sertaneja foi uma referencia no rádio para Sadi, quando se ouvia cantores como Zé Furtunae Pitangueira.
O Programa Rodeio Curinga apresentado na rádio Guaíba de Porto Alegre, também foi uma referência para Sadi Machado, apresentado por Darci Fagundes. Onde escutava no rádio do Tio Delfino, que chantageava os sobrinhos fazendo debulhar milho, destalar fumo durante a semana para ter direito de ouvir no seu rádio o programa.
Além da Rádio Santiago, Sadi Machado teve programa na Rádio Iguaçu FM, (atual Nova 99), e sempre acompanhava Barbela, em seus programas que tinhas nas Rádios de Santiago.
Sadi possui um linguajar bem humorado.
Lembrando de suas referência na música Sadi lembra de Jaime Medeiros Pinto, que lhe oportunizava apresentações em tertúlias e outros eventos.
Na escrita teve a ajuda de OraciDormenles, que sempre foi um crítico de sua obra, tendo a sabedoria para identificar uma obra de qualidade, lembra ainda, que certa vez Sadi levou algumas letras para que Oraci apreciasse e ele honestamente, disse essa aqui a “tapera” é uma letra de fundamento e essas outras aqui tu pega rasga e queima, lembrou Sadi, que desde então teve muito mais critério para apresentar uma letra.
Na música os principais parceiros foram Miguel Marques, Eurides Nunes, Nenito Sarturi, Francisco Vargas, Grupo Liberdade Gaúcha e tantos outros.
Lembra que no Festival Gruta em Canto de Nova Esperança do Sul,  Sadi quis se apossar do troféu de mais popular, isto ocorreu porque um amigo mentiu para o Sadi Machado antes da entrega dos troféus que ele tinha ganho, o que não era verdade.
Sadi Machado destaca como declamadores de destaque no cenário atual,  Adair Lançanova, Ataliba L. Lopes, JustinoLopes.
Já como cantor Sadi Machado gosta de ouvir Nenito Sarturi e Miguel Marques.
Atualmente Sadi Machado apresenta o Programa “de Bota e Bombacha”, na rádio 87.9 FM e se constitui numa realização pessoal, pois tem os netos ao seu lado.Sadi Machado que atualmente está com uma certa dificuldade de locomoção, situação que enfrenta com a mesma coragem e bom humor que são sua marca pessoal. O seu programa, usando as palavras do próprio Sadi Machado é como uma Sobrevida, pois chega de cadeira de roda, mas lá, enquanto está interagindo com os ouvintes como que por mágica fica são.
Sadi Machado, fez um alerta para que as novas gerações, tenham o cuidado de filtrar o que escutam no rádio ou olham na televisão, pois o modernismo acelerado está matando a nossa cultura. Os mais experientes, que são os responsáveis em transmitir aos mais novos a nossa cultura estão retraídos, sufocados pela enxurrada de influências que deturpam a verdadeira cultura gaúcha. Com a sabedoria de quem viveu no campo e o talento de um grande e autêntico compositor, Sadi Machado é uma referência do que podemos chamar de camperismo puro, vertente quase extinta mas muito importante da nossa música.
Pode estar certo Sadi Machado, que o programa GALPÃO, PÁTRIA E POESIA, também comunga da mesma vertente autêntica da nossa música e também defendemos a mesma Bandeira.



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